Título: ANP acha óleo no poço destinado à capitalização
Autor: Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2010, Economia, p. B1

Descoberta foi anunciada no dia em que o projeto começou a ser votado

No dia do início da votação, pela Câmara dos Deputados, do processo de capitalização da Petrobrás, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) comunicou ontem descoberta de petróleo no poço perfurado com o objetivo de encontrar as reservas necessárias à operação. A capitalização, que prevê a transferência para a estatal de 5 bilhões de barris de reservas de petróleo da União, é uma importante etapa da nova política do governo para a exploração e produção de petróleo no País, após a descoberta da fronteira do pré-sal.

A jazida foi encontrada menos de três meses depois do início da perfuração, que está sendo tocada com assessoria técnica e equipamentos da própria Petrobrás, uma vez que a ANP nunca atuou em perfuração marítima e não dispõe de conhecimento operacional. O poço passará ainda por um teste de produção, mas o diretor de exploração e produção da Petrobrás, Guilherme Estrella, diz que as primeiras informações são "promissoras" e apontam para um volume de petróleo que se aproxima do total proposto no projeto de lei.

"Até o poço ser definitivamente testado, ainda há risco. Mas, de qualquer forma, as primeiras informações nos apontam para um resultado em termos de volumes recuperáveis também muito positivos, que vão contribuir certamente com grande parte daqueles 5 bilhões de barris", afirmou o executivo, em entrevista ao Estado. A empresa espera ter o resultado definitivo do trabalho em até um mês. As informações serão submetidas a uma agência certificadora de reservas, que definirá o volume recuperável final.

O poço - batizado inicialmente de Franco - está sendo perfurado pela ANP a nordeste de Iara, descoberta do pré-sal da Bacia de Santos com reservas estimadas em 3 a 4 bilhões de barris de petróleo e gás. Ontem, representantes da empresa e da ANP se reuniram para avaliar os próximos passos da operação, que incluem o teste de produção no poço.

Franco está sendo perfurado em área ainda sob controle da União. A proposta é que, caso confirmadas, as reservas sejam vendidas à estatal. Com o dinheiro arrecadado, o governo poderá comprar novas ações da Petrobrás, iniciando o processo de capitalização da estatal. Acionistas minoritários terão direito de acompanhar a União. O objetivo é fortalecer a estatal, garantindo à empresa recursos e maior capacidade de financiamento para desenvolver os projetos do pré-sal.

Os custos da operação estão sendo bancados pela Petrobrás, que assumiu os riscos. Com base em dados sísmicos, a empresa identificou cinco possíveis localizações para poços - todos com nomes de moedas da União Europeia que foram substituídas pelo euro. Mas, segundo Estrella, a decisão final ficou a cargo da agência reguladora. A ANP não se pronunciou sobre a descoberta, que foi apenas listada em seu site, como ocorre com todas as descobertas de petróleo feitas por concessionários no Brasil.

O diretor da Petrobrás informou que o reservatório atingido pela ANP tem características melhores do que o encontrado em Iara. Ainda não há indicações, porém, se é uma acumulação de petróleo única, fato que só será esclarecido após os testes no reservatório.

"Se as informações de pressão forem as mesmas, pode-se comprovar que é uma mesma acumulação", explicou o executivo. Nesse caso, Petrobrás e o consórcio que tem a concessão de Iara (que, além da estatal, inclui a britânica BG e a portuguesa Galp) terão de negociar a divisão proporcional da produção - processo conhecido como unitização.

Otimista, Estrella disse não acreditar na necessidade de um novo poço para avaliar a descoberta feita pela ANP. "Geralmente, se tiver um teste bem projetado, não precisa de outro poço para testar, dá para investigar um raio que permita fazer uma estimativa confiável", explicou. As projeções de Tupi e Iara, por exemplo, também foram feitas com apenas um poço. "Ficar perfurando aí um, dois, cinco poços para confirmar os 5 bilhões de barris recuperáveis seria ruim para todo mundo."

Em caso de confirmação da descoberta, a ANP abre uma nova fronteira de exploração do pré-sal na Bacia de Santos, que poderá ser incluída nos primeiros leilões para os contratos de partilha de produção propostos pelo novo modelo.