Título: Promotor calcula em R$ 100 milhões desvio em cooperativa ligada ao PT
Autor: Macedo, Fausto ; Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2010, Nacional, p. A4

José Carlos Blat diz não ter dúvida de que uma fatia desse montante foi destinada a campanhas eleitorais do partido

Pode ultrapassar R$ 100 milhões o total do desvio de recursos daCooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), calcula o promotor deJustiça José Carlos Blat, da 1ª Promotoria Criminal da Capital. "Amovimentação sob suspeita indica que o rombo supera R$ 100 milhões",disse Blat, após análise parcial de 8,5 mil extratos bancários dacooperativa, relativos ao período de 2001 a 2008.

Blat estáconvencido de que uma fatia do montante foi destinada a campanhaseleitorais do PT - ele não aponta valores exatos que teriam tomado esserumo porque, alega, depende de investigações complementares.

Nasexta-feira, o promotor requereu a quebra do sigilo bancário e fiscalde João Vaccari Neto, que presidiu a cooperativa até fevereiro, quandodeixou o cargo para assumir o posto de tesoureiro do PT. Também foipedida uma devassa nos investimentos de dois ex-diretores da entidade,Ana Maria Érnica e Tomás Edson Botelho Fraga. O promotor quer obloqueio das contas da Bancoop.

"Que houve desvio eu não tenhomais dúvida alguma", diz o promotor, após dois anos e meio de apuração."Os dirigentes da cooperativa transformaram-na em negócio lucrativo,utilizando os benefícios da lei para lesar milhares de cooperados queaderiram através de contratos para a construção de moradias. Uma partedesse dinheiro foi para o PT, outra parte para o enriquecimento ilícitode ex-dirigentes da Bancoop."

Ele identificou "milhares demovimentações financeiras fraudulentas visando a ludibriar oscooperados". O promotor identificou "operações inusitadas, obviamentepara mascarar o desvio de dinheiro para caixa 2 de campanhaseleitorais".

REPASSE

O inquérito revela que umex-presidente da cooperativa, Luiz Eduardo Malheiro, tinhaparticipações como sócio-cotista da Germany Comercial e Empreiteira deObras Ltda, responsável pela construção dos empreendimentos da Bancoop.Malheiro fazia parte da diretoria da Mirante Artefatos Ltda, contratadada Bancoop para fornecimento de concreto. Ele morreu em novembro de2004, em acidente de carro em Petrolina (PE). Ao Ministério Público,seu irmão, Hélio Malheiro, afirmou que "muitas vezes se via obrigado aentregar valores de grande monta" para o PT.

O rastreamentobancário aponta repasses da Germany para o partido. "A doação efetuadapela Germany para o comitê financeiro do Partido dos Trabalhadores temapenas aparência lícita, pois foi uma forma fraudulenta de burlar alegislação eleitoral que os dirigentes da Bancoop, que pertencem areferido partido político, encontraram para beneficiar seuscandidatos", diz Blat.

"Os dirigentes da Bancoop, através deempresa de fachada, operaram esquema de caixa 2 para fomentar campanhaseleitorais", afirma. "O exame dos documentos bancários indica que acooperativa emitia cheques, valendo-se do expediente de saques na bocado caixa, sem indicar o destinatário e tampouco constando aidentificação dos portadores. Cerca de 40% da movimentação das contasda Bancoop teve os recursos sacados em dinheiro."

REAÇÃO

Vaccarilançou um desafio. "Blat tinha que colocar o que diz nos autos. O fatoé que não existe nenhum processo contra dirigentes da Bancoop na época,nem contra mim, nem contra outros. Ele faz agitação eleitoral, mas nãocoloca nada nos autos. É inalienável o direito de defesa de qualquercidadão."

Para o advogado da Bancoop, Pedro Dallari, "émaluquice" a estimativa dos R$ 100 milhões. "Eu não sei nem de onde eletirou isso. Hoje a cooperativa é credora, ela tem a receber doscooperados." Dallari aponta "erro infantil" no exame dos cheques."Ignoraram o que é movimentação interbancária."

"A cooperativaé sujeita a controles e auditoria permanente. Todos os balanços e asdemonstrações financeiras são verificadas. É evidente que não poderiahaver uma única transferência para o PT que não fosse transparente",diz o criminalista.