Título: Arruda tenta resistir, mas é notificado à revelia
Autor: Pires, Carol
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2010, Nacional, p. A10

Foi preciso que duas testemunhas assinassem um termocomprovando que primeiro-secretário da Câmara tentou intimar governadorafastado

À revelia, o governador afastado José Roberto Arruda (sem partido,ex-DEM) foi notificado ontem sobre o processo de impeachment queenfrenta na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Foi preciso queduas testemunhas assinassem um termo comprovando que oprimeiro-secretário da Casa, deputado Batista das Cooperativas (PRP),tentou intimar Arruda e este se negou a rubricar o documento.

Comoestratégia para ganhar tempo no cargo sem precisar renunciar -estratégia que o livraria do processo, mas tiraria dele o foro especial- Arruda havia se negado, na sexta-feira, a receber a notificação. Comojustificativa, usou o fato de o inquérito da Operação Caixa de Pandoranão estar anexado na íntegra à notificação. Os deputados já haviam idoao encontro do ministro Fernando Gonçalves, do Superior Tribunal deJustiça (STJ), relator do caso, para ter acesso à parte sigilosa dasinvestigações, mas o pedido foi negado.

Ainda sem a cópia doinquérito, Batista voltou ontem à Polícia Federal acompanhado de doisprocuradores da Câmara. Passou uma hora com o governador, de quem éaliado e chegou a ser líder de governo. O deputado saiu do encontrodizendo temer pela vida de Arruda, que na manhã de ontem, pela primeiravez em 26 dias, desde que foi preso por tentativa de suborno de umatestemunha do "mensalão do DEM", saiu das instalações daSuperintendência da Polícia Federal para ir ao Hospital JK, no setorsudoeste de Brasília.

Arruda se queixava de dores no tornozelodireito, que operou em novembro após rompimento do ligamento. SegundoBatista, o governador afastado sofre de diabetes e há suspeita de queesteja com trombose. "Temo pela vida do governador", repetiu o deputadoreiteradas vezes.

EXAMES

Arruda deixou a PF por volta das10 horas e seguiu até o hospital. Em nota, o Hospital JK confirmouapenas que ele passou por exames requisitados por seu médico. "Emborase trate de uma pessoa pública, por questões éticas o hospital tem aobrigação de resguardar as informações relativas ao paciente", informouem nota de cinco linhas.

Conforme o Estado antecipou na semanapassada, a defesa de Arruda inclui entre as principais estratégias opedido de sua transferência para uma "prisão médica". Ontem, seusadvogados entraram com um pedido no STJ para que o governador sejarecebido por seu médico particular. A solicitação foi feita diretamenteao relator do inquérito, ministro Fernando Gonçalves. A defesa avaliaque um laudo médico pode comprovar que Arruda não tem condições depermanecer na Polícia Federal. A saída seria transferi-lo para umaclínica em caráter de preso ou uma prisão domiciliar.

IMPEACHMENT

Notificadosobre o processo de impeachment, Arruda terá, a partir de hoje, 20 diasúteis para apresentar defesa. Com ela em mãos, o relator do processo,Chico Leite (PT), fará um parecer que será votado por uma comissãoespecial e depois pelo plenário. Até antes da votação em plenário,Arruda pode renunciar para preservar seus direitos políticos. Os doisdeputados da oposição que fazem parte da CPI da Corrupção ganharamontem cargos de chefia no colegiado. Antônio Reguffe (PDT) será ovice-presidente e Paulo Tadeu (PT), o relator. A presidência da CPI,contudo, continuará nas mãos da governista Eliana Pedrosa (DEM).