Título: Projetos de cunho eleitoral têm preferência na Câmara
Autor: Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2010, Nacional, p. A10

A votação da proposta de emenda constitucional do piso salarial para ospoliciais civis, militares e integrantes do corpo de bombeiro noplenário da Câmara expôs o mal-estar existente na relação do presidenteda Casa, Michel Temer (PMDB-SP), com os líderes partidários e revelou oimpulso, cada vez mais incontrolável, de deputados para aprovarprojetos populares, de cunho eleitoral, nos meses que antecedem aseleições. "Tiraram a tampa da panela. A Câmara virou um dissídiocoletivo", constatou o deputado José Genoino (PT-SP), resumindo o climade incômodo na Casa com as pressões de corporações que invadem oCongresso.

A emenda dos policiais acendeu a luz vermelha. Sequalquer pacote de bondade chegar ao plenário, será aprovado para nãoresultar em desgaste do parlamentar preocupado em se reeleger. Esse é oentendimento consensual na Casa. Desde a semana passada, líderes nãoescondem estranhamento com Temer.

O presidente, por sua vez, fezchegar às lideranças que não assumirá o desgaste de impedir a votaçãodos projetos, se os próprios líderes, quando procurados pelos grupos depressão, assinam requerimentos de urgência para as propostas.

"Queremque o presidente segure no peito? Se os líderes não segurarem, ele vaicolocar para votar", afirmou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves(RN), na defesa de Temer.

Para definir uma pauta para ospróximos dois meses, Temer chamou líderes partidários para reuniãohoje. O objetivo: evitar surpresas, como na terça passada, quando oplenário votou a proposta de piso nacional para os policiais e Corpo deBombeiro no valor de R$ 3.500 para soldados e de R$ 7.000 paraoficiais. A votação não foi concluída e, nesta semana, voltou à pauta,contrariando o governo.

"Quero convencer os líderes de que apauta não deve ser definida de afogadilho nem pelos grupos de pressão",disse líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Até o fimdo mês, a pressão deve aumentar. Dos 14 projetos encaminhados em agostopassado tratando de aumento salarial de diversas categorias, 9 aindanão foram votados. A partir de abril, por causa do ano eleitoral, ogoverno fica proibido de conceder aumentos - por isso a pressa.