Título: Poupança deve ser estimulada
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2010, Economia, p. B2

O jornal Valor informa que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) iniciou uma fiscalização sobre os abusos dos bancos na fixação dos custos de administração dos fundos de investimento. A medida muito se justifica, mormente quando se pretende ampliar os investimentos, o que exige um aumento real do volume da poupança doméstica.

Nos últimos meses, registrou-se forte crescimento das aplicações em cadernetas de poupança, cujo rendimento é de 0,5% ao mês sobre o valor atualizado pela TR na data de aniversário da aplicação. Trata-se incontestavelmente de uma remuneração alta para uma aplicação que tem liquidez total e que é isenta do Imposto de Renda. O interesse dessa aplicação para os bancos tem origem na expansão do crédito imobiliário, para onde vão 65% dos depósitos, 20% destinados para encaixe obrigatório no Banco Central (BC).

A remuneração das cadernetas, que parecia muito baixa no tempo da inflação alta, voltou a se tornar interessante com sua forte redução. No entanto, o intenso aumento desse tipo de aplicação tem outra explicação importante: o alto custo de administração cobrado pelas instituições financeiras nos fundos de investimento.

A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) divulgou um quadro das taxas de administração em dezembro de 2009, que variavam de 2,76% (fundos de curto prazo) a 0,92% (renda fixa). No entanto, trata-se de uma média fornecida pelas próprias instituições, que não parece dar uma visão correta da situação.

Tivemos a curiosidade de examinar as taxas de um grande banco, que variavam de 1% até 4,80%. Por outro lado, verifica-se que as grandes instituições não estão mais interessadas em captar recursos para alguns fundos, preferindo contar com os recursos das cadernetas, que lhes permitem realizar grandes lucros com a elevação das taxas de juros que normalmente praticam.

Assim, pode-se imaginar que não estarão muito preocupados com uma possível regulamentação da CVM, já que não procuram captar recursos, pois os conseguem no exterior em condições favoráveis.

Existem, portanto, abusos na fixação das taxas de administração, que chegam a ser indexadas tomando como base o CDI ou a cotação de algumas ações que apresentam uma grande volatilidade.

Cabe à CVM coibir esses abusos e ao governo pensar em estimular a poupança interna para financiar grandes investimentos com bons prazos.