Título: China não confirma conta de filho de Sarney, diz Tuma Jr
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2010, Nacional, p. A6

Ministério diz que não recebeu "qualquer comunicado do governo chinês" sobre transferência de R$ 1 milhão do Caribe para agência em Qingdao

O Ministério da Justiça negou ontem que tenha recebido qualquer confirmação, por parte de autoridades chinesas, sobre a existência de uma conta corrente no exterior, movimentada pessoalmente pelo empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A informação foi veiculada na edição de ontem do jornal Folha de S. Paulo. Segundo a reportagem, Fernando Sarney teria usado essa conta para realizar uma transferência no valor de R$ 1 milhão para uma agência do banco HSBC situada em Qingdao, na China.

"O Ministério da Justiça esclarece, por meio de seu secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Junior, que o Departamento de Recuperação de Ativos, da secretaria, não recebeu qualquer comunicado do governo chinês a esse respeito", afirma a nota. A reportagem veiculada pela Folha aponta que a conta em questão estaria situada em um paraíso fiscal, em nome de uma offshore com sede no Caribe.

O Estado noticiou na edição de 16 de julho do ano passado que o Ministério Público Federal rastreava contas secretas supostamente mantidas por Fernando Sarney no exterior. Na época, os investigadores pediram auxílio às autoridades chinesas para levantar todas as informações sobre a remessa de US$ 1 milhão feita pelo empresário para a China. A Procuradoria-Geral da República teve de fazer licitação para contratar um tradutor que pudesse transcrever o pedido de cooperação para o mandarim. Na época, o pedido brasileiro foi enviado por meio do Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça.

Na primeira fase da investigação, a PF e o Ministério Público reuniram documentos, e-mails e conversas telefônicas que tratam das operações financeiras no exterior. As indicações contidas nos documentos apontavam que a maioria das contas era movimentada por Gianfranco Perasso, um dos colegas de Fernando Sarney na Escola Politécnica da USP ? segundo a polícia, ele é espécie de laranja de luxo do empresário.

Do relatório da PF, constava cópia da autorização, assinada pelo próprio Fernando Sarney, para transferir o dinheiro para o HSBC em Qingdao. A conta de destino da remessa pertence à Prestige Cycle Parts & Accessories Limited ? que pelo nome seria uma empresa de peças e acessórios de bicicletas.

As descobertas relacionadas à remessa faziam parte de uma das cinco frentes de investigação abertas pela Operação Boi Barrica da PF, rebatizada de Operação Faktor. Os relatórios continham referências a contas bancárias mantidas nas Bahamas e nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecidos paraísos fiscais no Caribe. Em e-mails interceptados pela PF, havia também referência a um escritório no Panamá, especializado em gerenciar negócios em paraísos fiscais.