Título: Promotor estuda oferecer delação premiada a ex-diretores da cooperativa
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2010, Nacional, p. A4

Ideia é quebrar resistência de quem já foi chamado a depor e insistiu na versão de que não houve irregularidade

O Ministério Público estuda oferecer os benefícios da delação premiada a ex-diretores da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) para fechar o inquérito sobre suposto esquema de fraudes e desvio de verbas. A estratégia da promotoria criminal é quebrar a resistência de alvos da investigação que já foram chamados a depor, mas insistiram na versão de que não houve irregularidades na gestão da cooperativa.

Fundada em 1996 por um grupo do PT, a Bancoop sofre uma devassa da 1ª Promotoria Criminal da capital. Segundo o promotor José Carlos Blat, que conduz o inquérito, o rombo pode ultrapassar R$ 100 milhões. Ele está convencido de que parte desse dinheiro foi destinada a campanhas eleitorais do PT. Outra fatia teria caído na conta de dirigentes da cooperativa.

Blat requereu a quebra do sigilo bancário do ex-presidente da Bancoop João Vaccari Neto. O rastreamento alcança dois momentos: o primeiro relativo ao período em que o tesoureiro do PT ocupou o cargo de diretor administrativo financeiro da cooperativa, entre 2003 e 2004, e o segundo ao tempo em que ele exerceu a presidência, de novembro de 2004 até fevereiro de 2010.

O promotor quer acesso a dados de dois ex-diretores, Ana Maria Érnica e Tomás Edson Botelho Fraga. Ele avalia que poderá reforçar o inquérito com depoimentos de ex-integrantes da entidade. Por isso estuda convencer investigados a prestar colaboração.

Os benefícios da delação podem ser concedidos a suspeitos que contam o que sabem, apontando superiores hierárquicos de organizações criminosas. O Ministério Público sustenta que a cúpula da Bancoop, nas administrações Vaccari e de seu antecessor, Luiz Eduardo Malheiro - morto em acidente de carro em 2004 -, formou quadrilha para prática de estelionato, apropriação indébita de recursos de cooperados e lavagem de capitais.

Rastreamento de contas da Bancoop mostra repasses para empresas contratadas. O detalhe que pode comprometer essas transações é que antigos dirigentes da cooperativa pertenciam aos quadros de fornecedores. A Germany Construtora e Incorporadora é citada. "A confusão negocial com a Bancoop causa espanto e demonstra o total descaso com os cooperados, enquanto responsáveis pela cooperativa sangraram os cofres em benefício próprio e também para fomentar campanhas políticas", afirma Blat.

O promotor identificou conta poupança da Germany com depósitos que somaram R$ 10 milhões em transferências da Bancoop. "Esse dinheiro sumiu", diz Blat.

INTERVENÇÃO

Dezoito entidades de cooperados vão à Promotoria do Patrimônio Público e Social com pedido de intervenção na Bancoop. Segundo o advogado Walter Picazio Júnior, "o argumento central do pedido é o inquérito que aponta para ocorrência de crimes."

Ontem, o criminalista Luiz Flávio Borges D"Urso, que representa Vaccari, pediu à Justiça que não decrete o bloqueio de contas da cooperativa. Alegou que se o congelamento de ativos for determinado judicialmente a Bancoop não terá como cumprir o Termo de Ajustamento de Conduta que firmou com o Ministério Público.

D"Urso considera que eventual quebra de sigilo de Vaccari deve ficar restrita ao período de 2003 a 2004. Ele classifica de "abusiva" a expansão da pesquisa. "Vaccari não tem nada a esconder, não deve absolutamente nada", reage o advogado. "Foi ele quem pôs ordem na casa, saneou financeiramente a Bancoop. Suas contas estão abertas, não há telhado de vidro, mas a busca deve ser justificada e relativa a um período determinado."

D"Urso disse não temer delação. "Nenhum receio porque a gestão Vaccari foi primorosa e transparente. Desde 2007 o promotor tenta descobrir pontualmente algo e até hoje não encontrou porque não existe nada."