Título: Defesa manobra para conseguir prisão domiciliar
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2010, Nacional, p. A11
Ideia é obter laudo médico provando que Arruda não pode ficar na PF
O estado de saúde do governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido), agora virou disputa entre seus advogados e os investigadores do "mensalão do DEM" em Brasília. Com o aval do ministro Fernando Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ao pedido feito pela defesa, Arruda recebeu ontem a primeira visita de seu médico particular, Brasil Caiado, em sua cela na Superintendência da Polícia Federal, onde está preso desde 11 de fevereiro. Hoje, uma nova avaliação, mais profunda, deve ser feita sobre sua saúde.
Os advogados do governador afastado estão de olho num laudo médico que comprovaria que ele não tem condições de permanecer preso na cela da PF. A defesa trabalha com a possibilidade de pedir prisão domiciliar ou transferi-lo para uma clínica particular na condição de preso. Chamada de "masmorra" pelos advogados de Arruda, a cela possui ar condicionado, frigobar, sofá, beliche e escrivaninha com cadeira acolchoada.
Ontem, o Ministério Público já reagiu a esse movimento do governador. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que é contrário a uma prisão domiciliar. Alegou que Arruda vive em condições dignas na cela da PF.
A prisão domiciliar ou médica passou a ser cogitada pela defesa de Arruda depois da esmagadora derrota, quinta-feira, na votação de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem, ao receber a visita do deputado Alberto Fraga (DEM-DF) ? seu ex-secretário ?, Arruda voltou a dizer que não pretende renunciar ao mandato, embora essa decisão facilite sua saída da prisão, motivada pela acusação de que usou o cargo de governador para atrapalhar as investigações sobre o "mensalão do DEM".
IMPEACHMENT
Arruda já pediu a seus advogados que tentem protelar o quanto podem o andamento do processo de impeachment que corre contra ele na Câmara Legislativa. O governador foi notificado na segunda-feira e, desde então, tem um prazo de 20 dias para se defender. Arruda não quer ser julgado pelos deputados enquanto estiver preso. Por isso, quer empurrar a votação do impeachment ? que deve ocorrer provavelmente em abril ?, a tempo de conseguir se livrar da prisão.
A alternativa de uma detenção domiciliar ganhou argumentos na segunda-feira, depois que Arruda foi parar no hospital com suspeita de trombose e problemas com diabetes. Sua mulher, Flávia Arruda, o visitou ontem na cela da PF e, adotando o discurso de outros aliados, voltou a reclamar das condições do marido na prisão.
Na saída, disse aos jornalistas que não vê problema no vídeo em que Arruda recebe R$ 50 mil das mãos de Durval Barbosa, seu ex-secretário de Relações Institucionais e delator do esquema. "Não me surpreende em nada porque eu sei que todo mundo recebe e que a política no Brasil é assim. As pessoas precisam receber dinheiro para a campanha", disse Flávia. "O dinheiro dele está declarado."