Título: Dilma ensaia voo solo em campanha
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2010, Nacional, p. A6
Pré-candidata do PT participa hoje de inauguração no Rio sem Lula
Convidada especial do governador Sérgio Cabral (PMDB) para a inauguração do Hospital da Mulher Heloneida Studart, na manhã de hoje, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, começa a ensaiar para a "carreira solo" na política. A partir da primeira semana de abril, quando deixará o governo para entrar na disputa eleitoral, Dilma não terá mais a companhia quase diária do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o criador de sua candidatura. Também não participará de solenidades oficiais com governadores e prefeitos.
O hospital não recebeu recursos federais e só começará a atender o público dentro de três semanas, mas a inauguração foi agendada para coincidir com o Dia da Mulher, comemorado em 8 de março. Em fase de crescimento nas pesquisas eleitorais, Dilma tem se aproximado das intenções de voto do governador José Serra, provável candidato do PSDB, porém continua em desvantagem entre o eleitorado feminino. Sem Lula, a festa de hoje vai girar em torno da futura candidata petista, embora seja um compromisso institucional, com a presença de outros ministros.
No dia seguinte, a ministra já estará de novo ao lado do presidente, em uma extensa agenda no Rio.
Segundo informação da Secretaria Estadual de Saúde, a estrutura está pronta, os equipamentos instalados e as próximas três semanas serão reservadas para treinamento dos profissionais de saúde contratados para trabalhar no hospital.
Na sexta-feira, os operários faziam os últimos retoques na obra. O governo do Estado investiu R$ 40 milhões na construção do hospital, especializado no atendimento de mulheres com gravidez de risco. O custo anual para funcionamento será de R$ 92 milhões.
A obra é mais um item na longa lista de desentendimentos entre Cabral e o ex-governador Anthony Garotinho, ex-aliado que vai disputar o governo pelo PR. O material da Secretaria de Saúde informa que "é o primeiro grande hospital inaugurado por esta gestão, que retomou as obras abandonadas em 2004 pela administração de Rosinha Garotinho (mulher do ex-governador)".
O pré-candidato do PR contesta. "A interrupção foi causada por causa de um problema no terreno que começou a comprometer a obra, mas isso aconteceu em 2006, no fim do governo da Rosinha. Não sei por que o governador demorou tanto para retomar e só está inaugurando agora."
Aliado de Dilma, a quem ofereceu um segundo palanque no Rio, Garotinho pretendia marcar um encontro com a ministra hoje, depois do compromisso da ministra com o governador. Disse, porém, que deve passar o fim de semana reunido com advogados para discutir sua defesa em ação civil pública do Ministério Público do Estado, por improbidade administrativa.
DESVIO
Os promotores acusam Garotinho, Rosinha e outras 86 pessoas de desvio de R$ 63 milhões. Na quinta-feira, a Justiça quebrou o sigilo bancário e bloqueou os bens dos envolvidos. "Eu ia telefonar para a Dilma para a gente marcar uma conversa, mas acho que não vai ser possível", contou Garotinho na sexta-feira. Na inauguração, Dilma encontrará o prefeito de São João de Meriti, Sandro Matos, do mesmo partido de Garotinho, mas defensor da reeleição de Cabral.
Até o fim do mês, Dilma continuará a maratona de viagens pelo País ao lado de Lula. Na segunda quinzena, ela terá destaque nas inserções do PT nos programas gratuitos de TV. Em 26 de março, a ministra, ao lado do presidente, será a estrela do lançamento da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2). O projeto, coordenado por Dilma, é a última missão como ministra.
Em abril e maio, ainda na condição de pré-candidata e fora do período oficial da campanha, Dilma fará visitas aos Estados para cumprir agendas programadas pelos partidos aliados. Também terá encontros com diferentes segmentos, como empresários, trabalhadores, cientistas e movimentos sociais.
"Para nós, a ministra Dilma fora do governo é melhor, porque temos muitas dificuldades de fechar uma programação para ela, por causa dos compromissos institucionais. Vamos reivindicar para São Paulo o maior número possível de eventos com Dilma", afirma o presidente do PT paulista, Edinho Silva.
FRASES
Anthony Garotinho Ex-governador do Rio "Eu ia telefonar para a Dilma (Rousseff, ministra da Casa Civil) para a gente marcar uma conversa, mas acho que não vai ser possível"
"A interrupção (das obras do hospital) foi causada por um problema no terreno que começou a comprometer a obra, mas isso aconteceu em 2006, no fim do governo da Rosinha. Não sei por que o governador demorou tanto para retomar e só está inaugurando agora"