Título: Brasil deve se abster em votação sobre Irã
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2010, Internacional, p. A22

Com a certeza de que sanções serão aprovadas no Conselho de Segurança, País quer evitar o desgaste de votar contra a retaliação

Equilibrando-se entre os argumentos das potências ocidentais e do Irã, o Brasil deverá abster-se de votar a resolução do Conselho de Segurança da ONU (CS) sobre novas sanções a Teerã. Como a China não faz mais a ameaça de veto à iniciativa, a expectativa do Itamaraty é que a proposta de resolução seja votada nesta semana.

A abstenção brasileira se dará apesar da aversão do Brasil a esse tipo de retaliação e da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Irã, marcada para 15 de maio. A razão está na certeza de que as sanções serão aprovadas - um voto contra isolaria e estigmatizaria o Brasil.

Como acentuou o chanceler Celso Amorim na quarta-feira, o Brasil "nunca disse como votará" no conselho. A mensagem trazida a Brasília pela secretária de Estado, Hillary Clinton, na semana passada, foi a de que a aprovação da resolução é inevitável e se dará em curto prazo. Ainda assim, ela ouviu com respeito os argumentos de Amorim e de Lula em favor de uma solução negociada.

Diplomatas brasileiros que acompanham o tema explicaram que o desafio de EUA, França, Grã-Bretanha e Rússia - países que, assim como a China, são membros permanentes do CS - será convencer Pequim a aprovar as sanções em vez de se abster. Essa mudança daria maior consistência à decisão.

CALIBRAGEM

A negociação com o governo chinês se concentra na calibragem das represálias que, em princípio, afetariam os interesses econômicos da Guarda Revolucionária iraniana, o braço armado do regime dos aiatolás. À China interessa proteger seu comércio com o Irã. Às demais potências interessa evitar que as medidas afetem diretamente a população iraniana e alimentem os discursos nacionalistas do governo local.

Mas, mesmo que a China se abstenha, essas potências conseguirão os nove votos necessários para aprovar a resolução. Dentre os membros não-permanentes, só o Brasil, a Turquia e o Líbano devem abster-se na votação. Japão, Nigéria, México, Bósnia, Áustria, Gabão e Uganda devem votar a favor.

Com a aprovação das sanções, as potências esperam evitar a contaminação pela polêmica sobre o programa iraniano da Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, que ocorrerá em maio, na ONU. "Queremos evitar que os temas em debate sejam esvaziados", disse um diplomata.