Título: Lula nega licença para fazer campanha
Autor: Lima, Eliana
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2010, Nacional, p. A6

Presidente diz que população veria isso como algo "irresponsável"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou que pretenda se licenciar do cargo para participar da campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sua sucessão. Em entrevista às rádios Emissora Rural AM e Juazeiro AM, na cidade de Juazeiro (500 quilômetros ao norte de Salvador), Lula negou a versão de que ele irá se afastar.

Segundo Lula, "seria uma coisa descabida imaginar que um presidente da República fosse pedir licença do cargo mais importante do Brasil para fazer campanha", sobretudo sem poder contar com a sua substituição pelo vice-presidente, já que José Alencar também concorrerá nas eleições deste ano.

"Não teria cabimento, não teria lógica, seria uma coisa vista, eu diria, de forma irresponsável com o mandato que me foi dado pelo povo brasileiro", disse.

O presidente esteve em Juazeiro, acompanhado por Dilma, para participar da entrega da primeira fase do Projeto Salitre, obra de irrigação no valor de R$ 251,5 milhões.

NERVOSO

Na entrevista, Lula disse que já aprendeu a lidar com esse tipo de situação, sem ficar nervoso. "Estou convencido, aos 64 anos, de barba branca, de que para o jornalista que age de má- fé a melhor resposta é o seu ouvinte, o telespectador e o seu leitor." E enfatizou que as pessoas precisam "parar de brincar com a inteligência do povo". Ele reiterou que não hipótese de se afastar. "O presidente da República tem que governar."

Lula lembrou que em abril tanto Dilma quanto os demais ministros que deverão candidatar-se a cargos eletivos irão se afastar do governo, como rege a legislação eleitoral. "Mas eu ficarei até a meia-noite do dia 31 de dezembro. Ainda dormirei presidente e só depois das 10 horas da manhã irei passar o mandato para quem for eleito presidente da República."

INCÔMODO

Ao discursar em Juazeiro, Lula disse que seu governo "incomoda muito" porque fez o Brasil "começar a mudar".

"Não quero falar de candidaturas, porque obviamente não quero me comprometer", disse à plateia de mil pessoas, entre agricultores beneficiados e sindicalistas. "Mas é só acompanhar os meios de comunicação para ver como incomoda." E ironizou a oposição: "Se eles pudessem, cantavam "um Lulinha incomoda muita gente, uma Dilminha incomoda muito mais"."

Ele também citou a pré-candidata do PT, ao enumerar obras e investimentos do Projeto Salitre, com conclusão prevista para 2014: "Dilma, presta atenção nesses números aqui, porque depois o povo vai cobrar".

A primeira fase entregou 5.099 hectares de área irrigada a 255 a agricultores familiares e 21 a empresas. Com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) , até agora foram gastos R$ 251,5 milhões - do total previsto de R$ 900 milhões. Lula garantiu que, este mês, será lançado edital de licitação para a segunda fase, com objetivo irrigar mais 7 mil hectares - ao custo de R$ 155 milhões.

Para Dilma, a "mudança" é o peso do Nordeste como vetor de crescimento. "No passado, a gente não dava a mesma importância a todos os lugares do Brasil. Havia lugares em que nem promessa chegava", disse a ministra. "Com o presidente Lula, chegou a hora e a vez do Nordeste." Lula emendou, repetindo um de seus bordões: "Eu duvido que em algum momento da história deste país houve tanto investimento em infraestrutura, como nós temos aqui".

Lula disse que ainda acredita em aliança entre o PT e PMDB na Bahia, apesar do clima de rivalidade que se instalou entre os dois partidos desde 2008 - quando os petistas deixaram a base da prefeitura de Salvador, a cargo do PMDB, para lançar candidatura própria ao cargo.

Acompanhado pelos dois candidatos - o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), e o governador Jaques Wagner (PT) - na visita a Juazeiro, ele contou que "não fica confortável" com a situação. "Posso dizer na frente de Geddel e de Wagner que gostaria que os dois estivessem juntos, para repetir a aliança que permitiu a vitória de Wagner no primeiro turno e a minha vitória na Bahia", afirmou. "Mas ainda tem tempo pela frente, não dou nada por encerrado.