Título: Chile falha em contar seus mortos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2010, Internacional, p. A16

Governo tenta explicar confusão no número de desaparecimentos e mortes; novo tremor abala Concepción

Seis dias depois do terremoto de 8,8 graus na escala Richter seguido de tsunamis, o Chile voltou a ser sacudido ontem por fortes réplicas, a maior delas de 6,6 graus, na cidade de Concepción. Enquanto o governo tentava explicar os graves erros cometidos na soma do número desaparecidos com o de mortos - que estaria entre 540 e 802 -, moradores da costa central e centro-sul do país voltavam a fugir em pânico, temendo que novas ondas gigantes varressem o litoral.

Ontem, as autoridades chilenas ainda tentavam determinar com precisão o número de vítimas do terremoto e do tsunami. Na noite de quinta-feira, a imprensa chilena afirmou que a presidente Michelle Bachelet corrigiu o número de mortos, de 587 para 316, somente na Região do Maule, a mais afetada. Fontes oficiais dizem que o governo errou ao incluir pessoas desaparecidas entre os mortos.

Com isso, a cifra anunciada na quarta-feira de 802 mortos poderia baixar para 540, mas autoridades locais asseguram que ainda há centenas de corpos em pequenas cidades e vilarejos costeiros que não foram contabilizados e, por isso, podem levar ao aumento, e não à diminuição, da lista de mortos. Ainda ontem, o governo divulgou uma lista com a identidade de 452 mortos. Segundo as autoridades, há dezenas de corpos nos necrotérios aguardando identificação.

ONU

Os novos tremores coincidiram com a chegada a Santiago do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que anunciou uma doação de US$ 10 milhões para ajudar na reconstrução, que pode levar entre três e quatro anos, segundo estimativas do governo.

Numa tentativa de recuperar a credibilidade abalada por erros cometidos no desastre de sábado, a Marinha chilena anunciou ontem a demissão do militar responsável por monitorar o movimento da maré e emitir os alertas de tsunami no Chile, o capitão Mariano Rojas Bustos. Ele foi acusado de omissão e negligência por não ter fornecido informações claras e rápidas à Presidência, quando questionado sobre o risco de um tsunami arrasar a costa do Chile no dia 27. A grave falha contribuiu para aumentar o número de vítimas. Quase metade dos mortos estava na cidade litorânea de Constitución, onde uma onda gigante varreu a praia, pegando os moradores de surpresa.

PÂNICO

As réplicas de ontem fizeram ranger as paredes do principal hospital de Concepción. Segundo a médica Patricia Correa, o local "está a ponto de ruir". Dezenas de pacientes foram retirados às pressas e mandados de volta às suas casas.

Para piorar o drama dos moradores das cidades da costa do Pacífico, a Marinha chilena divulgou ontem um alerta de fortes ressacas para a próxima semana. O aumento da maré e as fortes ondas poderão castigar por até três dias os portos e balneários já seriamente afetados pelo desastre. COMENTÁRIOS