Título: Aumenta o número de médicos em São Paulo, mas distribuição é ruim
Autor: Lordelo, Carlos ; Leite, Fabiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2010, Vida&, p. A22
Estudo do conselho mostra que a cidade de Santos concentra o maior número de profissionais no Estado
Um novo estudo do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) mostra que na última década houve um aumento de 33% na proporção de médicos para cada grupo de mil habitantes. Antes era 1,8 médico morando na cidade onde atua para cada mil moradores. Agora são 2,45 por mil.
No período, a população paulista cresceu 12%, enquanto o número de médicos em atividade no Estado subiu 48%.
A cidade de Santos, no litoral sul do Estado, é a que mais concentra médicos que moram no local - tem 6,34 profissionais por mil habitantes.
É uma das maiores concentrações de profissionais do mundo. Ultrapassa a da Grécia, segundo país com a maior proporção de médicos - o primeiro é Cuba. Já a concentração de médicos do Estado de São Paulo assemelha-se à dos Estados Unidos.
Santos é seguida por Ribeirão Preto, Botucatu e Campinas. E a capital paulista ficou com 4,3 profissionais por mil habitantes, a quarta maior taxa do mundo, ultrapassando a Bélgica (mais informações nesta página). Enquanto isso, um quinto dos municípios paulistas (148) não tem nenhum médico que mora no local, o maior deles é Igaraçu do Tietê, com 24.126 habitantes.
O trabalho do conselho, porém, tem limitações, uma vez que leva em conta somente o local de residência dos profissionais - isso quer dizer que, por exemplo, podem existir médicos de outras cidades trabalhando em Igaraçu do Tietê.
O estudo mostra ainda que 65% dos 100.950 profissionais registrados em São Paulo estão onde vivem 44% da população e que 32% dos profissionais têm quatro ou mais empregos.
O aumento de médicos no Estado, que inicialmente pode parecer uma boa notícia, para o conselho revela a necessidade urgente de reduzir a abertura indiscriminada de escolas de Medicina.
O conselho também destaca a necessidade de criar uma carreira para os médicos, para incentivar a melhor distribuição pelo território. Cita como exemplo a forma de distribuição usada hoje para juízes, que começam em municípios pequenos e "migram" para os maiores, com melhores salários, conforme evoluem na carreira.
"É uma luta que vínhamos perdendo sistematicamente na última década", afirmou o presidente do conselho, Luiz Alberto Bacheschi, sobre a abertura de novos cursos de Medicina.
"Somente no ano passado, quando o Ministério da Educação convocou um grupo de especialistas para estudar o assunto, começamos a obter melhora", continuou.
"Nenhuma entidade médica é contra mais médicos, mas a favor de profissionais adequadamente formados. Além disso, é preciso que os governos pensem em planos de carreira para os profissionais. Se não existirem condições mínimas, sempre faltarão médicos em alguns locais", disse o presidente.
INVESTIMENTOS
"O Brasil investe muito pouco no sistema público. Metade do investimento é feito no sistema suplementar, que se concentra nas regiões mais desenvolvidas, principalmente nas capitais", afirma o presidente da Associação Médica Brasileira, José Luiz Gomes do Amaral.
"Não tem plano de carreira para médico dentro do Sistema Único de Saúde e o trabalho está muito associado a contratos temporários ou irregulares. Isso afasta médicos de regiões onde só existe a opção SUS", continuou Amaral.
Para ele, a concentração de médicos coincide exatamente com as regiões onde está concentrada a população com planos de saúde.
"Ao longo dos anos não há nenhum movimento adequado por parte da gestão pública para corrigir esse erro", concluiu o presidente da associação.
São Paulo só perde na relação médico por mil habitantes para Distrito Federal, Rio e Goiás.
O conselho regional não investigou o motivo da alta concentração de médicos em Santos. Mas Bacheschi avalia que o bom índice de qualidade de vida da cidade - um dos melhores do Estado - possa ser um fator de atração para os profissionais.
SURPRESA
O gastroenterologista José Luiz Boechat Paione, de 67 anos, se mudou de Mococa, no interior de São Paulo, para Santos para fazer faculdade de Medicina.
Desde então, mora e trabalha na cidade. O gastroenterologista se surpreendeu com os resultados do levantamento e afirma não ver "grandes atrativos" para médicos no local.
"Tenho dificuldade para encontrar profissionais que queiram trabalhar aqui, especialmente pediatra e clínico-geral." COLABOROU BRUNO RIBEIRO, DO JORNAL DA TARDE