Título: O IPCA e a decisão do Copom
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2010, Economia, p. B2

Em fevereiro o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou variação de 0,78%, ante 0,75% em janeiro, acumulando aumento de 1,54% nos dois primeiros meses do ano, ante 1,03% no mesmo período de 2009. O IBGE aponta o caráter sazonal dessa alta, que naturalmente leva a indagar se as autoridades monetárias reagirão aumentando a taxa básica de juros.

Os itens que mais contribuíram para a elevação foram educação, alimentação e transporte, que sozinhos responderam por uma elevação de 0,69% dos preços. O maior impacto veio dos preços da educação, com o aumento das mensalidades escolares (que se pode verificar uma só vez por ano) e da compra de materiais escolares, concentrada no início do ano. Há, pois, de fato, um fator sazonal.

O transporte, cujas tarifas são reajustadas em geral no início do ano (principalmente ônibus), tem também esse caráter sazonal, embora possa haver novos reajustes ao longo do ano em outros meios de transporte. A elevação dos preços da alimentação reflete, neste momento, o efeito do excesso de chuvas e a alta de alguns preços no mercado internacional, como o do açúcar. Em contrapartida, houve queda sensível no preço da carne, que tem peso importante no cálculo do IPCA, que se refere a gastos de famílias com renda de 1 até 40 salários mínimos.

Os analistas examinam com atenção esses dados para tentar prever se na sua próxima reunião o Comitê de Política Monetária (Copom) optará por uma elevação da taxa Selic. Mas há outros fatores que o Copom leva em conta. Em favor da manutenção da taxa há o aumento da produção industrial sem elevação do Índice da Capacidade de Produção, uma redução do IPCA calculada por exclusão e uma menor difusão dos preços. Ao contrário, registram-se uma elevação sensível dos preços livres (0,93%) e, especialmente, uma alta das previsões de inflação para 2011.

O Copom poderá esperar mais um mês, portanto, para decretar uma majoração da Selic, a fim de avaliar se o aumento dos depósitos compulsórios teve algum efeito sobre a demanda doméstica, em razão da alta das taxas de juros praticadas pelos bancos por causa da redução da liquidez.

Poderão as autoridades monetárias correr o risco de que a elevação de preços contamine as atividades de serviços? É certo que o governo não quer ver um retorno das pressões inflacionárias neste período eleitoral e quer mostrar uma série de realizações que a inflação comprometeria.