Título: Promotor pedirá indiciamento de tesoureiro do PT por estelionato
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2010, Nacional, p. A4

João Vaccari Neto teria cometido delitos como presidente da Bancoop, entre 2005 e 2010, afirma José Carlos Blat

O promotor de Justiça José Carlos Blat declarou ontem que vai requerero indiciamento criminal e denunciar à Justiça João Vaccari Neto porformação de quadrilha, estelionato, apropriação indébita e lavagem dedinheiro ? delitos que o tesoureiro do PT, segundo o promotor, teriapraticado enquanto ocupou a presidência da Cooperativa Habitacional dosBancários (Bancoop), entre 2005 e 2010. Blat disse que a medida serátomada ao fim de sua investigação, independentemente de a Justiçaautorizar ou não a quebra do sigilo bancário e fiscal de Vaccari,requerida sexta-feira.

"Nada vai impedir o nosso trabalho",afirmou o promotor, indignado com acusações de cardeais do PT de queestaria a serviço do PSDB. Ele anotou que Ricardo Berzoini,ex-presidente da sigla, o acusou em entrevista a uma emissora de rádiode ser sócio de bicheiro e de contrabandista. "Propaganda difamatória eofensas pessoais não vão desviar a nossa atenção. Vamos darcontinuidade. Já enfrentei outras organizações criminosas tão ou maisimportantes que essa."

O rombo, calcula o promotor, supera R$100 milhões. Ele está convencido de que parte desse montante financioucampanhas eleitorais do PT.

Blat ganhou reforço significativo dainstituição. Ele estava praticamente isolado na apuração, mas a partirde hoje as operações da Bancoop serão alvo também de inquérito civil daPromotoria do Patrimônio Público e Social, braço do Ministério Públicocom larga especialização em ações contra corrupção e improbidade.

Opromotor requereu remessa do inquérito à Seccional Centro de Políciapara que o ex-presidente da Bancoop seja intimado. "Ele (Vaccari) teráoportunidade de se explicar, é exercício sagrado da defesa", observouBlat. "Poderá dar sua versão, se quiser. Depois vamos individualizar ascondutas e apresentar denúncia criminal."

Ressaltou também que orequerimento de quebra de sigilo de Vaccari complementa o inquérito."Não seria adequado que outros ex-dirigentes da Bancoop tivessemafastado seu sigilo e ele ficasse de fora."

Blat planejadenunciar Ana Maria Érnica e Tomás Edson Botelho Fraga, que integravama cúpula da cooperativa. A devassa se estende ao período anterior àgestão Vaccari ? seu antecessor, Luiz Eduardo Malheiro, morreu emacidente de carro em 2004. "Os golpes mais incidentes aconteceram entre2002 e 2006", afirmou. "Vaccari e Ana participaram diretamente naadministração financeira fraudulenta da Bancoop."

O promotordisse que "não está investigando membros ou líderes do PT", porque nãoé sua atribuição. Por isso encaminhou à Procuradoria Eleitoraldocumentos que revelam elo da Bancoop com o PT ? doações da GermanyComercial e Empreiteira, que pertencia a dirigentes da própriacooperativa.

Ele declarou que um ponto da investigação éreferente a uma cláusula de confidencialidade que trata de empréstimosque somam R$ 10,5 milhões que o Sindicato dos Bancários teria concedidoà Bancoop. "Esses repasses não estão lançados nos balanços", destacou opromotor. "Causa estranheza porque o sindicato é criador da Bancoop. Acláusula impede que os cooperados tenham acesso a tais dados."

"Amanifestação do promotor só revela que, embora venha fazendo acusaçõesgraves desde 2008, até agora não tomou medida judicial", reage ocriminalista Pedro Dallari, que defende a cooperativa. "Evidencia avirulência do promotor. É claro o desvio de conduta. Se o promotorentende que há crimes deve propor ações penais. Mas está inerte, apenasassume posições perante a imprensa que não adota com ação efetiva."