Título: Tem gente inaugurando maquete, ataca Lula; Serra ignora crítica
Autor: Almeida, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2010, Nacional, p. A8
Provocação era dirigida ao governador, que na véspera tinha apresentado modelo de ponte entre Santos e Guarujá
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem a inauguraçãoda termelétrica Euzébio Rocha, em Cubatão (SP), para destilar númerosda economia brasileira e alfinetar o governador de São Paulo, JoséSerra (PSDB), provável adversário de sua pré-candidata à Presidência, aministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). "Estamos num ano decampanha e estamos percebendo que tem gente inaugurando até maquete",ironizou.
Lula não citou Serra nominalmente, mas a referênciaé clara. Anteontem, o governador paulista esteve em Santos, ondeparticipou de evento para apresentar a maquete de uma ponte de ligaçãoentre Santos e Guarujá. O projeto, que ainda não foi licitado, já haviasido apresentado pelo governo do Estado no mês passado. Em resposta àdeclaração de Lula, a assessoria de imprensa do governador informou que"o governo de São Paulo não se sente atingido".
Ao mesmo tempoque critica, Lula é alvo de reclamações constantes dos tucanos por suasviagens ao lado de Dilma. Sua agenda está praticamente a serviço dapré-candidata. Durante a visita à termelétrica - pronta desde novembroe "inaugurada" só ontem -, presidente e ministra abraçaram e posarampara fotos com operários.
Contudo, após alfinetar Serra sobrea maquete, o presidente foi mais longe e indiretamente propôs um duelo."Eu, quando comecei minha vida política, dizia que político mentirosofala assim: "Eu mato a cobra e mostro o pau"", assinalou.
"Ora,o fato de você mostrar um pau não significa que matou a cobra. Nósadotamos o discurso de que um político verdadeiro mata a cobra e mostraa cobra morta", continuou.
Só mais tarde, em evento em Araçatuba(SP), é que Dilma aderiu à provocação e adotou a mesma estratégia deLula. "Nós não inauguramos maquetes, mas obras completas", disse, apósassinar um edital de licitação para a Transpetro.
O desafiopara o duelo faz parte da estratégia petista de comparar gestões,aplicada à exaustão ontem tanto no discurso de Lula como no de Dilma.Ambos procuraram associar a inauguração da termelétrica, ao custo de R$1,032 bilhão e associada ao Programa de Aceleração do Crescimento(PAC), à redução da possibilidade de um apagão, como o que ocorreuentre 2001 e 2002, últimos anos de Fernando Henrique Cardoso naPresidência.
Dilma, a primeira a discursar, sublinhou logo naabertura de sua fala que a obra previne um engessamento da economia."Essa termelétrica é mais uma obra do PAC e tem por objetivo garantirque nosso país possa crescer sem gargalos, obstáculos ao crescimentocomo aqueles que ocorreram entre 2001 e 2002, quando por oito meses oBrasil não tinha energia suficiente para abrir um único shoppingcenter, uma única padaria, uma única loja", afirmou.
Dilmadescreveu o apagão de 2001 como uma "loja de armarinhos", em que secolocam "todas as linhas e botões e não tem para quem vender". Mas nãocomentou o apagão de novembro do ano passado. Em seu discurso, Lulaaproveitou a deixa. "Pode vir fazer investimento no Brasil que vai terenergia suficiente, que não vai mais ter apagão como teve em 2001",afirmou, sob a ressalva de que "com as intempéries a gente não brinca".