Título: Lula se cala sobre Cuba e Amorim tenta justificar gafe de presidente
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2010, Internacional, p. A12

Chanceler diz que líder fez ""autocrítica"" sobre greve de fome e responsabiliza EUA por falta de democracia na ilha

Depois de dizer que não se sentiu "constrangido" com as declarações dopresidente Luiz Inácio Lula da Silva, que anteontem comparou osdissidentes cubanos em greve de fome a "bandidos de São Paulo", ochanceler Celso Amorim responsabilizou ontem os EUA pelo regimeditatorial de Havana.

Para o ministro, o Brasil não pode "sairdando apoio a tudo quanto é dissidente no mundo. Isso não é (nosso)papel", afirmou. Lula - que ontem cumpriu compromissos em Cubatão e nacapital de São Paulo - evitou falar sobre o tema.

Asdeclarações do chanceler foram feitas depois de receber, em visitaoficial ao Brasil, o ministro do Exterior da Alemanha, GuidoWesterwelle. Quando indagado sobre a comparação de Lula, Amorimafirmou: "Eu não estou constrangido." E acrescentou: "Se alguém estáinteressado em uma evolução política em Cuba, eu tenho a receitarápida: acabe com o embargo. Isso vai trazer grandes mudanças em Cuba",disse o chanceler, referindo-se ao bloqueio econômico imposto pelos EUAdesde 1962.

Na terça-feira, Lula afirmou que não poderiaquestionar as razões pelas quais o governo cubano havia prendido osopositores do regime, da mesma forma como não gostaria que Cubaquestionasse as prisões no Brasil. O presidente qualificou a únicaforma de protesto não reprimido em Cuba, a greve de fome, de uma"insanidade". "Imagine se todos os bandidos que estão presos em SãoPaulo entrassem em greve de fome e pedissem libertação", disse.

"FALAR DISCRETAMENTE"

Amorimainda tentou justificar as declarações de Lula como uma autocrítica dopresidente - que fez uma greve de fome nos anos 80 (mais informações napágina A14) - a essa forma de protesto. "(Ele) estava exprimindo apenasalgo sobre a greve de fome", defendeu. Mas distinguiu ainda duasatitudes requeridas do governo brasileiro. "Uma coisa é defender ademocracia, os direitos humanos, o direito de falar, como fazemos.Outra coisa é você sair dando apoio a tudo quanto é dissidente nomundo. Isso não é (nosso) papel."

A alternativa adotada peloBrasil, segundo Amorim, é falar "discretamente" com o governo cubanosobre esses temas e evitar as condenações públicas, que "não têm efeitoprático". Para ele, a mudança na orientação política de Havana seráproduto do desenvolvimento econômico e do bem-estar da população. Amelhor contribuição do Brasil, disse, será o aumento do investimento ea realização de obras de infraestrutura. "Essas condições melhores parao povo cubano trarão, naturalmente, melhora nos aspectos políticos deCuba."

EXPLICAÇÕES

Celso Amorim Chanceler brasileiro "O Brasil não pode sair dando apoio a tudo quanto é dissidente no mundo. Isso não é (nosso) papel"

"Sealguém está interessado em uma evolução política em Cuba, eu tenho areceita rápida: acabe com o embargo. Isso vai trazer grandes mudançasem Cuba"

"Essas condições melhores para o povo cubano trarão, naturalmente, melhora nos aspectos políticos de Cuba"