Título: Estado de dissidente cubano se deteriora
Autor: Miranda, Renata ; Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2010, Internacional, p. A14

Outro opositor promete fazer greve de fome se Fariñas morrer

O estado do dissidente cubano Guillermo Fariñas - há 14 dias em grevede fome para pedir a libertação de 26 presos políticos da ilha queestão doentes - deteriorou-se bastante ontem e outro opositor, oengenheiro Félix Bonne, de 70 años, disse estar disposto a substituí-lono protesto caso ele morra. "Todos os meus companheiros de lutatentaram me dissuadir, mas essa é uma decisão minha e eu pretendolevá-la até as últimas consequências", disse Bonne à agência FrancePresse.

A porta-voz de Fariñas, Licet Zamora, afirmou aoEstado que, no início da tarde, o dissidente teve "taquicardia, fortesdores de cabeça e sintomas de desidratação". "Ele quer morrer", disseLicet. "A sua situação piorou bastante hoje, mas ele não vai abandonarseu protesto e só pretende entrar num hospital em estado de choque."

ElizardoSánchez, porta-voz da Comissão Cubana de Direitos Humanos eReconciliação Nacional, confirmou que o estado do dissidente está sedeteriorando rapidamente. "A situação de Guillermo está muito delicada.Ele deve sofrer seu segundo colapso dentro das próximas 48 horas e ogoverno só está esperando que ele perca a consciência para obrigá-lo areceber tratamento", afirmou Sánchez.

Dois médicos cubanos, queexaminaram o dissidente ontem pela manhã, recomendaram a suahospitalização porque um colapso era "iminente".

Fariñas jáperdeu 13 quilos desde que começou o protesto, no dia 24, logo após amorte do preso político Orlando Zapata. Jornalista de Santa Clara, elejá fez outras 22 greves de fome para protestar contra o governo cubano(mais informações no quadro ao lado).

BANDIDOS

Naterça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou o jejumde dissidentes cubanos como uma "insanidade" e pediu respeito àsdecisões da Justiça do país. "Greve de fome não pode ser usada como umpretexto de direitos humanos para libertar pessoas. Imagine se todos osbandidos que estão presos em São Paulo entrassem em greve de fome epedissem libertação", afirmou Lula, comparando os presos políticoscubanos com criminosos comuns.

"O Lula deve estar louco porfazer essa comparação", disse a porta-voz de Fariñas. "Consideramos ogoverno brasileiro cúmplice do governo cubano por causa desse apoio",completou. Para ela, se continuar a fazer declarações como essa, Lulatambém terá sua parcela de responsabilidade nas eventuais mortes queocorrerem na ilha. "O presidente brasileiro ajudaria se ficasse calado.Estamos bastante decepcionados com ele."

Para o escritor cubanoexilado Carlos Alberto Montaner, o episódio contribui para aumentar assuspeitas nos EUA e em outros países sobre Lula, que já estavamcrescendo por causa do apoio ao Irã. "Está cada vez mais evidente queele não é um moderado com credenciais democráticas impecáveis, como sepensava anteriormente", disse Montaner.