Título: Consumo ou poupança, qual a melhor política?
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2010, Economia, p. B2
Ontem foi o Dia do Consumidor e também o 20.º aniversário do dia em que o governo Collor decretou o bloqueio da poupança e das contas bancárias no País, deixando a população apavorada. Não se pode negar que aquela medida deixou marcas profundas na economia da Nação, e é preciso reconhecer que, hoje, os consumidores ganharam, da parte do governo lulista, um apoio extraordinário, enquanto a poupança, base do desenvolvimento sustentável, ficou totalmente esquecida.
As Contas Nacionais de 2009, que acabam de ser divulgadas, mostram que no ano passado o consumo das famílias cresceu 4,1%; as despesas do governo, 3,7%; enquanto os investimentos caíram 9,9%, representando apenas 16,7% do PIB, porque a poupança bruta, com 14,6% do PIB, apresentou a menor participação no produto desde 2002.
O governo petista, sob o pretexto de salvar a economia, tomou medidas para estimular a demanda, sem evitar, porém, uma queda da produção industrial de 17,4%. Para estimular o consumo, recorreu a diversas medidas: expansão do crédito, incluindo crédito vinculado à folha de salários; elevação do salário mínimo bem acima da inflação; aumento do número de funcionários públicos acompanhado de reajustes salariais; e contou ainda com o efeito da elevação do salário mínimo sobre todos os programas assistenciais. Embora não diretamente responsável, o governo permitiu que a valorização do real favorecesse a compra de bens importados em detrimento da indústria nacional.
O problema dessa opção é que não foi acompanhada por uma política de estímulos à poupança, que se justificava amplamente diante de um aumento real dos rendimentos. Com estímulos à poupança, teria sido possível ao setor privado realizar mais investimentos ? de que o governo se apropriou, mas financiando-se com poupança externa, recusando-se a reduzir seus gastos de custeio para contar com poupança própria.
Seguramente, um nível maior de poupança interna teria permitido realizar investimentos que criam aumento da demanda, com a vantagem do efeito prolongado sobre o crescimento. Caberia ao governo estudar como estimular as poupanças, seja com incentivos fiscais ou com propaganda. Diversos meios podem ser usados, desde melhor remuneração para aplicações de longo prazo, redução do peso fiscal para algumas aplicações, facilidades para novas emissões de ações, proteção maior para acionistas minoritários até oferta de seguro para algumas operações.