Título: Na rede pública, metade da coleta está indisponível
Autor: Leite, Fabiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2010, Vida, p. A16

Dados da BrasilCord mostram que a principal limitação dos bancos de cordão públicos no País é o fato de metade das mães e bebês doadores não retornarem aos serviços para uma nova avaliação. Isso faz com que as bolsas coletadas não possam ser usadas para doações.

A legislação dos bancos prevê que mãe e bebê retornem para novos exames em até seis meses após o parto, como maneira de assegurar a qualidade do sangue. "Não faz sentido. Se tivéssemos todas as bolsas disponíveis, muito mais pessoas seriam beneficiadas", diz o hematologista Celso Arrais, do banco de cordão do Hospital Sírio-Libanês,

Segundo Luiz Bouzas, coordenador da BrasilCord, das 8 mil coletas efetivadas, 4 mil não estão disponíveis. Especialistas defendem alteração na lei para que as amostras possam ficar acessíveis para a busca de doadores e, se houver compatibilidade, só depois seja feita a reavaliação da mãe e da criança, por entrevistas e exames de sangue que permitem reduzir o risco de um resultado falso negativo em um teste de HIV, vírus da aids.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária informou que pretende discutir a mudança da regra em consulta pública.

Mitos. Bouzas defende que é um mito a crítica aos bancos públicos de que há um limitado número de instituições que fazem a coleta do material. Na capital paulista são apenas dois: os hospitais Albert Einstein (privado), que coleta só das próprias pacientes, e o Sírio-Libanês, que só coleta de pacientes da maternidade pública Amparo Maternal.

"O objetivo não é coletar amostras de todos os bebês", afirma o especialista. "No banco público, a ideia é conseguir uma amostra significativa, diversificada da população. A construção é gradual". No Brasil, o objetivo é chegar a 64 mil coletas disponíveis. Mas, por causa do interesse de muitas mães em doar, o governo estuda fornecer kits para que as coletas possam ser feitas em qualquer maternidade.

Já foram realizados 400 transplantes de sangue de cordão no País, sendo que 90 eram de material coletado no Brasil ? nos demais, vinha de doações de outros países.

"Há luz no fim do túnel. O cordão é uma esperança", afirma a gerente de comunicação Luciana Leite, de 38 anos, cujo filho Lucca, de 8 anos, portador de adrenoleucodistrofia, distúrbio do metabolismo, foi beneficiado por um cordão de fora do País.

Apesar do procedimento ter dado certo, o garotinho morreu por causa de uma infecção oportunista. / F.L.