Título: Anvisa pretende coibir propaganda de bancos de sangue de cordão umbilical
Autor: Leite, Fabiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2010, Vida, p. A16

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pretende intensificar as ações de combate à propaganda de bancos particulares de sangue de cordão umbilical, por considerar que os anúncios podem fazer promessas que a ciência ainda não é capaz de cumprir.

Com slogans como "Uma decisão no presente. Um presente para o futuro", "Um ato de amor para toda a vida", "O seguro biológico do bebê" e "A vida de muitos filhos e de outros parentes próximos pode ser preservada", cerca de 25 mil pais e mães no Brasil se convenceram, nos últimos anos, a pagar para congelar o sangue do cordão umbilical e da placenta de seus filhos.

O motivo é a esperança de que, em um futuro próximo, as células-tronco desse sangue venham a ser utilizadas para tratar doenças. No entanto, a Anvisa sustenta que esse marketing dos bancos privados de sangue de cordão é enganoso e antiético.

Por trás das frases da propaganda há promessas de combater doenças do sangue que possam surgir nas crianças - uso que é raro e pouco estudado, segundo especialistas. Há também mensagens de que as células poderão ser aplicadas na medicina regenerativa para tratar, por exemplo, problemas cardíacos que a criança venha a desenvolver - aplicação em estudo e longe de se tornar realidade.

"Pautamos uma conversa com o Conselho Federal de Medicina (CFM), que tem uma regulamentação a respeito de propaganda por parte dos médicos. Nos preocupam muitíssimo esses anúncios, pela promessa de resultados de tratamento que não são comprovados cientificamente. O negócio banco é muito promissor no sentido de lucro. Mas tem muito pouco ainda a oferecer de concreto do ponto de vista terapêutico", disse Geni Neumann, gerente de tecidos, células e órgãos da Anvisa.

Correções. A agência vem acompanhando a propaganda dos bancos e determinou que correções fossem feitas durante uma fiscalização entre 2007 e 2008. Mas agora quer uma ação contra os médicos.

Segundo o vice-presidente do CFM, Carlos Vital Lima, o órgão vai avaliar as denúncias das quais tomar conhecimento dentro de sua regulamentação, que veda ao médico a prática de propaganda sensacionalista e prevê punições. Podem chegar à cassação do registro profissional.

A Associação de Células Tronco, que reúne três grandes bancos privados de São Paulo, diz que os tratamentos prometidos são possibilidades. Reconheceu haver abusos no marketing de empresas, mas destacou que são exceção. "Não se pode generalizar. Se há alguém enganando, por que a vigilância não vai e fecha?", questiona Carlos Ayoub, um dos dirigentes da entidade.

A hematologista Eliane Gluckman, do hospital St. Louis, em Paris, pioneira nos transplantes de medula com células-tronco de cordão umbilical, criticou os serviços privados em palestra na semana passada em São Paulo. "Ninguém deve pagar por pesquisas", afirmou a cientista.

Procura

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