Título: Irã quer voto brasileiro para conselho da ONU
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2010, Internacional, p. A15

Órgão máximo de direitos humanos terá eleição em maio, quando Lula estiver em Teerã, e iranianos pedem apoio brasileiro

O Irã saiu ontem em busca do voto brasileiro para ser eleito ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. A votação ocorre no dia 13 de maio na Assembleia-Geral da ONU, às vésperas da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Teerã. Em Genebra e Nova York, os países europeus e o governo americano se mobilizam para evitar que o Irã - acusado de graves violações contra sua população - seja eleito para o órgão máximo de direitos humanos.

A diplomacia iraniana confirmou ao Estado que, já em 2009, enviou uma carta a uma série de "países amigos" pedindo apoio na eleição internacional. O nome do Brasil, segundo a missão do Irã em Genebra, constaria na lista. O Conselho reúne 47 países, eleitos por uma maioria na Assembleia-Geral.

Entre os representantes asiáticos, quatro serão substituídos em maio e o Irã quer uma das vagas. Arábia Saudita e China, frequentemente criticadas por violações aos direitos humanos, fazem parte do grupo.

A partir de agora, a estratégia iraniana será a de promover reuniões bilaterais para pedir apoio. Mais uma vez, o voto brasileiro é considerado como fundamental. A ofensiva ocorrerá principalmente em Nova York e em Brasília. "Vamos usar todos os canais diplomáticos para conseguir apoio", afirmou um representante iraniano na ONU.

A pressão pela obtenção de um voto brasileiro pode colocar o Itamaraty em uma saia-justa. O governo já admite que há uma pressão da sociedade civil contra uma aproximação com o Irã sem que haja um sinal claro de Teerã em relação aos direitos humanos. Mas votar contra Teerã na ONU enquanto Lula estiver prestes a embarcar poderia azedar a viagem.

Reação. Entre europeus, a estratégia é a de insistir nas violações cometidas pelos iranianos nos últimos meses. Outra ideia é a de apoiar um país amigo na região para roubar votos do Irã. O embaixador da França, Jean Baptiste Mattei, apelou para que Teerã liberte os "milhares de prisioneiros" detidos após as eleições de junho. "O governo iraniano continua a usar a violência para impedir que seus cidadãos se expressem", afirmou Eileen Chamberlain Donahue, representante americana na ONU.

"O Conselho de Direitos Humanos precisa acabar com o silêncio em relação ao Irã", defendeu o representante de Israel. Grã-Bretanha, Japão, Noruega e vários outros países fizeram apelos semelhantes. O Brasil se manteve em silêncio nesta semana, enquanto o governo do Irã optou por rejeitar as acusações.

A China evita a confrontação em relação à eleição do Irã. "Todos os países soberanos têm o direito a concorrer a uma vaga no conselho", afirmou o embaixador chinês na ONU, He Yafei.

PARA ENTENDER Órgão tem apenas 4 anos

O Conselho de Direitos Humanos da ONU substituiu, em 2006, o comitê que cuidava do assunto, em um sinal de que o tema teria ganhado importância na burocracia internacional. Violadores como China e Arábia Saudita integram o órgão.