Título: Milhares protestam por royalties no Rio
Autor: Leal, Luciana Nunes ; Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2010, Economia, p. B6

Servidores públicos e trabalhadores das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), transportados em ônibus alugados por prefeituras e pelo governo do Estado, foram o público principal da manifestação, ontem, no centro da cidade, contra a Emenda Ibsen. O governador Sérgio Cabral (PMDB) e dezenas de prefeitos recorreram à máquina pública para garantir o quorum na passeata.

Apesar de tanta mobilização, não houve discursos durante o protesto contra a medida que tira recursos dos royalties de Estados e municípios produtores de petróleo. Apenas música, principalmente funk. Além de políticos, participaram do ato a apresentadora Xuxa, a atriz Letícia Spiller, o sambista Neguinho da Beija-Flor e a cantora Fernanda Abreu. A Assessoria de Imprensa do governo do Estado não informou quanto foi gasto na organização do protesto.

O temporal, no fim da tarde, no entanto, atrapalhou a animação dos manifestantes. Muitos preferiram se abrigar e nem chegaram à Cinelândia, ponto final da caminhada. Às 17 horas, o coordenador de Comunicação Social da Polícia Militar, tenente-coronel Henrique Lima de Castro Saraiva, calculou em 50 mil o público da passeata.

"Mas ainda tem muita gente presa no engarrafamento, que vai chegar mais tarde; o número vai aumentar", previu. Às 19h30, o tenente-coronel elevou a estimativa para "quase 150 mil", o que se aproxima da previsão da véspera, feita pelo vice-governador, Luiz Fernando Pezão.

Foram mobilizados 4.775 PMs para garantir a segurança da região e do entorno, além do controle do tráfego. Mas a missão não se limitou ao trabalho ostensivo. Um grupo de pelo menos 50 PMs foi utilizado para cercar a "área vip" da passeata, reservada a autoridades. Lado a lado, vestidos com camisetas com a inscrição "Contra a covardia, em defesa do Rio", os PMs seguravam uma grande faixa com a mesma mensagem. O coordenador de Comunicação da PM disse não ter conhecimento do trabalho de policiais à paisana.

A manifestação resgatou um velho bordão nacionalista dos anos 50, em versão funk: "Arrá, urru, o petróleo é nosso!". Logo no início do comício, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) avisou que não haveria discursos. "Libera, DJ", decretou. Começou, então o funk, composto especialmente para o protesto: "Pré-sal é nosso, sim/É do nosso povão/Não adianta olho grande e ambição".

A prefeita de Campos, Rosinha Garotinho (PMDB), ficou inconformada com a despolitização da manifestação. Ex-governadora e mulher do ex-governador Anthony Garotinho, adversário de Cabral e pré-candidato do PR ao governo do Estado, ela concordou que os prefeitos não falassem, mas disse que Cabral e o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), também presente, deveriam se pronunciar.

"Não vim aqui ouvir música, o ato é político. Tem que explicar para as pessoas que estão lá na rua sem entender nada", disse.

PERGUNTAS & RESPOSTAS Debate sobre os royalties

1. Qual o tamanho das perdas? Calcula-se em R$ 7,2 bilhões para Estado e municípios. Em alguns casos, pode cair a menos da metade. Governo do Estado e prefeituras dizem que finanças podem ficar inviabilizadas.

2. A queda nos royalties pode inviabilizar a Copa e as Olimpíadas? O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e a Confederação Brasileira de Futebol já emitiram notas demonstrando preocupação com o assunto, mas não detalharam em números como se dará o prejuízo. Ambos, porém, dizem ter confiança de que a questão será revertida.