Título: Banco Mundial defende valorização do yuan
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2010, Economi, p. B11

Em avaliação trimestral sobre a China, instituição aumenta de 9% para 9,5% a projeção de crescimento do país e vê necessidade de elevação dos juros

O Banco Mundial elevou de 9% para 9,5% sua projeção de crescimento da China neste ano e defendeu a valorização do yuan em relação ao dólar e a elevação dos juros para conter expectativas inflacionárias, evitar a formação de bolhas de ativos e rebalancear a economia.

Em sua avaliação trimestral sobre a China, a instituição ressaltou que a situação local é diferente da situação da maioria dos demais países e demanda uma política monetária mais apertada que a do ano passado, quando o volume de novos créditos dobrou em relação ao período anterior, para US$ 1,4 trilhão, o equivalente a 30% do PIB.

"A crise financeira mundial nos ensinou que a política monetária tem papel central para evitar a criação de bolhas de ativos. A China tem condições de ter uma taxa de juros mais alta e a maior flexibilidade na taxa de câmbio ajudaria a reduzir o temor de aumento do fluxo de capitais para o país", afirmou Louis Kuijs, economista-sênior do Banco Mundial em Pequim.

Depois da reforma do regime cambial em 2005, a China voltou a vincular a cotação de sua moeda ao dólar a partir de meados de 2008. Desde então, o yuan está estabilizado em 6,83 por US$ 1.

Maior crescimento. A paridade com o dólar faz com que Pequim tenha de seguir a política monetária dos Estados Unidos, que está com juros baixos para enfrentar a queda na atividade econômica. A China cresceu 10,7% no último trimestre de 2009 e fechou o ano com 8,7%, o maior índice entre os grandes países.

Apesar do aquecimento econômico, a China enfrenta restrições para elevar os juros, porque o movimento pode estimular a entrada de capitais no país, dificultando a manutenção do câmbio fixo. É por isso que o Banco Mundial defende a valorização da moeda. "Com o tempo, a maior flexibilidade cambial pode permitir que a China tenha uma política monetária independente das condições cíclicas dos EUA, o que é cada vez mais necessário", diz o relatório trimestral divulgado ontem.

Pequim enfrenta pressão internacional crescente para valorizar sua moeda. Nesta semana, senadores americanos apresentaram proposta de legislação que classifica a China como um país que manipula o câmbio para obter vantagens comerciais, o que abriria caminho para a imposição de sobretaxas na importação de seus produtos. Com isso, eles esperam neutralizar o que consideram como vantagem indevida das vendas chinesas.

Os críticos afirmam que a cotação do yuan é mantida artificialmente entre 20% e 40% abaixo do que seria o nível correto, caso forças de mercados definissem o valor. A moeda desvalorizada amplia a competitividade das exportações chinesas.

Os economistas do Banco Mundial não se referiram ao impacto do câmbio nas exportações e destacaram apenas os efeitos da moeda valorizada sobre a economia chinesa. Eles não consideram a inflação um grande problema, mas acreditam que o fortalecimento da taxa de câmbio pode ajudar a reduzir as pressões inflacionárias.

FRENTE A FRENTE

Ding Zhijie Professor da Universidade de Comércio Internacional e Economia em Pequim "Com uma pressão tão pesada dos EUA, qualquer ação pode parecer uma submissão à pressão estrangeira."

Sherrod Brown Senador dos EUA "O presidente Obama estabeleceu uma meta de dobrar as exportações dos EUA em 5 anos. Para isso, será necessário que a China valorize sua moeda."