Título: A vertigem do euro
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/03/2010, Economia2, p. B1A

- O Estadao de S.Paulo A Europa, sobretudo a sua moeda comum, o euro, está tendo uma vertigem. E nada avança. Todo o mundo se confronta. A França, à qual o que não falta é arrogância, censurou a Alemanha por trabalhar bem e acumular euros, enquanto outros países europeus estão afogados numa pilha de dívidas e déficits.

A Alemanha ficou furiosa com essas censuras. E a chanceler Angela Merkel levantou o tom do seu discurso: não só rejeita socorrer a Grécia, um país indulgente, inativo e repleto de funcionários públicos, mas, também, ela acha que seria saudável excluir da zona do euro um país que se obstina em viver acima dos seus recursos.

Claro que pensamos imediatamente na pobre Grécia que está à beira da falência. Infelizmente , ela não é o único "caso perdido" da zona do euro. Portugal não está melhor, já que está perto de uma paralisação.

Lisboa é o elo mais fraco do euro. Uma situação pior do que a da Grécia, segundo os especialistas. Contabiliza uma dívida externa vertiginosa. Um déficit público de 9,2%. A União Europeia exigiu medidas draconianas. O primeiro-ministro português José Sócrates prometeu reduzir o déficit público a 3% em 1013. Sim, mas o premiê português "já falou demais, não se tem confiança nele" . Segundo os portugueses, Sócrates não é a solução, ele é o problema.

Quando foi eleito pela primeira vez, em 2005, o carismático e entusiasmado José Sócrates se saiu bem no início. Saneou a economia portuguesa. Criou 150 mil empregos. Mas, em setembro de 2009, seu partido socialista perdeu a maioria absoluta.

Depois disso, Sócrates se viu no "centro do furacão". Não só tem que administrar uma economia despedaçada, mas é atacado furiosamente pelo Parlamento. É preciso dizer que não é difícil atacar o premiê português: em torno dele os escândalos nascem como flores na primavera. Nos cinco últimos anos, já foram mais de dez que eclodiram.

Segundo a rede de TV SIC, "Portugal é um navio embriagado em que o comandante é o mais suspeito de toda a tripulação". Desvalorizado, às vezes desprezado, por causa dos processos que enfrenta, José Sócrates não é a melhor escolha para impor ao país uma cura de rigor drástica, sem o que o país irá se juntar à Grécia no inferno onde esperneiam os "condenados do euro".

E isso inquieta a União Europeia e os chefes de Estado europeus, especialmente Angela Merkel. Com efeito, se a zona do euro for em socorro da Grécia, outros países na bancarrota se sentirão encorajados a solicitar ajuda.

É o caso de Portugal, particularmente ameaçado. Mas também da Espanha, da Irlanda. E por que não da Grã-Bretanha? Eis por que Angela Merkel, sentada sobre os lingotes de ouro que os industriais e exportadores alemães colheram para o país, toma a dianteira. E propõe expurgar da zona do euro seus elementos arquejantes e claudicantes. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO