Título: Após vitória na Câmara, Obama tenta vender reforma da Saúde a eleitores
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/03/2010, Internacional, p. A10

Agenda doméstica. Presidente quer converter aprovação de seu mais ambicioso plano interno em trunfo nas eleições legislativas de novembro; republicanos prometem convencer americanos de que mudança representa 'estatização' e 'desrespeito à liberdade'

O presidente Barack Obama assina hoje na Casa Branca a lei da reforma do sistema de saúde, que vai estender assistência médica para 32 milhões de americanos que atualmente não têm seguro. Mas, apesar de a reforma ser um avanço histórico - EUA eram o único país rico que não garantia acesso universal -, não se sabe se a lei trará dividendos políticos para Obama.

Aprovar a lei foi duro, mas ganhar o apoio da população para a reforma será mais difícil ainda. Muitos acham que as eleições legislativas de novembro serão um referendo sobre a reforma. Se os eleitores aprovarem as mudanças, será bom para os democratas. Senão, os democratas podem até perder a maioria que detêm tanto na Câmara como no Senado.

"Cada uma das disputas eleitorais de novembro será um referendo sobre a reforma", disse o líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell.

Para ganhar o apoio da população, Obama vai começar uma ofensiva de relações públicas na quinta-feira, com uma viagem a Iowa. Grande parte dos americanos (segundo a última média do Pollster.com, 49,9%) é contra a reforma. O presidente Obama considera que, uma vez aprovada, a reforma será compreendida melhor pelos americanos. Assim, o presidente e outras altas figuras do partido vão passar os próximos meses "vendendo" a reforma para o público, para colher os frutos na eleição de novembro.

Já a oposição republicana deverá passar os próximos meses tentando convencer os eleitores de que a reforma era mesmo o pesadelo que eles pintaram, a qual estatizará o sistema de saúde e arruinará a assistência médica.

Resistência. A lei da saúde sofre grande resistência por parte dos republicanos. Eles acham que a reforma traz um excesso de intervenção do governo no sistema de saúde, não resolve o problema da inflação nos custos com assistência médica nem combate o excesso dos processos contra erros médicos.

Os democratas acham que será uma tarefa difícil dizer para os milhões de americanos que passarão a ter seguro de saúde que a reforma é má ideia. "Os republicanos exageraram em suas críticas contra a reforma", disse Dan Pfeiffer, diretor de comunicações da Casa Branca.

A reforma foi aprovada no domingo, com 219 votos a favor e 212 contra. Nenhum republicano votou a favor da lei. A legislação estava tramitando no Congresso há 14 meses. Era a prioridade da agenda doméstica de Obama.

Se a reforma não fosse aprovada, seria uma derrota acachapante para Obama, uma demonstração da incapacidade do presidente de tirar sua agenda do papel.

Repercussões. Mas aprovar a medida pode trazer repercussões negativas nas eleições legislativas de novembro, quando todos os deputados e parte dos senadores enfrentam as urnas. Os republicanos prometem fazer da Saúde uma bandeira eleitoral e conquistar cadeiras dos democratas que apoiaram a legislação.

A lei de reconciliação, que faz ajustes na reforma aprovada no domingo, deve ser votada no Senado até sábado. Entre outras coisas, a lei de reconciliação aumenta o valor dos subsídios do governo que serão concedidos a famílias que não têm renda suficiente para pagar pela assistência médica.

PARA LEMBRAR

A reforma do sistema de saúde dos EUA era uma das principais promessas de campanha de Barack Obama, eleito em 2007. Mas a aprovação no Congresso demorou em razão da resistência de muitos setores conservadores da sociedade e da obstrução da oposição republicana, que acredita que a nova lei é uma intervenção autoritária do Estado no setor e ampliará os custos com a saúde, aumentará o déficit e reduzirá as escolhas dos pacientes.

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