Título: Não há país imune à corrupção
Autor: Almeida, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2010, Nacional, p. A12

Oadvogado grego Dimitri Vlassis foi amigo pessoal de Giovanni Falcone, ojuiz que virou símbolo da luta anticorrupção ao desbaratar a máfiaitaliana na Operação Mãos Limpas, nas décadas de 1980 e 1990. Umatentado tirou a vida de Falcone, mas Vlassis prosseguiu. Hoje é chefeda Seção de Corrupção e Crimes Econômicos do Escritório das NaçõesUnidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

Em entrevista ao Estado, Vlassis, que participou do 4.º FórumBrasileiro de Segurança Pública, em São Paulo, alerta o Brasil sobre ocusto das campanhas presidenciais para este ano. "Quanto maior o custo,maior o risco (de corrupção)", disse. Para ele, com o crescimento daeconomia brasileira, o País tornou-se "atraente" para as chamadasorganizações criminosas transnacionais.

O Brasil é uma democracia recente e tem uma economia emcrescimento. Não é esse o perfil procurado por organizações criminosastransnacionais?

O crime organizado, especialmente os grupostransnacionais, opera como empresas. Faz um cálculo muito simples:combina onde há melhores oportunidades e onde é mais fácil ter lucros.Pelo fato de ter instituições bem estabelecidas, não acho que o Brasilseja um alvo específico. Por outro lado, o tamanho de sua economia esua força são atraentes.

Na última década escândalos de corrupção atingiram escalasmaiores no Brasil, como os casos dos mensalões. O País está longe dealcançar padrões internacionais anticorrupção?

Quando os escândalos são expostos e as pessoas são punidas oulevadas à Justiça, entendo como um bom sinal. No entanto, não existepaís imune à corrupção. E esse não é mais um problema doméstico. Emalgum momento, de alguma forma, o dinheiro vai sair e encontrar umparaíso fiscal ou haverá contato internacional envolvido.

O Brasil entrou na esfera global de acordos comerciaisbilionários para aparatos de defesa. Está protegido de propinainternacional nesses acordos?

Pelo que vi, certamente as instituições estão em seu lugar. E pelo que vi, funcionam bem.

A Inglaterra sofreu com problemas de propina. Tony Blair foi acusado de dar presentes luxuosos para sauditas.

Nenhum país está imune. Mais dinheiro, maior a tentação.

Houve casos recentes de recuperação de ativos no Brasil, mas nadaque se compare ao número de escândalos de lavagem de dinheiro e uso deoffshores.

É um problema de cooperação internacional, que infelizmente não estáfuncionando tão bem como gostaríamos. Temos um certo nível dearrogância que ainda persiste. É comum encontrar situações em que, porexemplo, eu espero ajuda de um país muito mais avançado, que não o fazporque não acha meu sistema legal sério.

O Brasil passa por discussões sobre transparência, financiamentode campanha e continua sem uma regulamentação do lobby. Como superaresses tópicos?

Financiamento de campanha é um problema-chave em muitos países.Quanto mais alto o custo, maior o risco. Creio que é preciso conter oscustos para níveis apropriados, administráveis. E também discutir oproblema do financiamento público, claro que com a necessáriatransparência, para remover o risco de partidos e políticos secomprometerem com as expectativas dos que os patrocinam. Obviamente, aluta anticorrupção requer prevenção. Novas regulações, como por exemplopara o lobby, devem estar certas de atingir o objetivo e não minar aatividade econômica.