Título: Disputa de tucano e petista é escolha de Sofia para militares
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2010, Nacional, p. A4

Chefes acham que tanto Serra quanto Dilma não são próximos das Forças Armadas nem sensíveis aos problemas da Defesa

Serraou Dilma, Dilma ou Serra. As Forças Armadas alimentam dúvidas sobre osdois candidatos e admitem que estão diante de "uma escolha de Sofia".Ao longo de três semanas, o Estado ouviu chefes militares da ativa e dareserva sobre ambos e colecionou um rosário de queixas e temores.

A maioria avalia que nem Dilma nem Serra são próximos das ForçasArmadas e sensíveis aos problemas da Defesa. Os nomes do governador deMinas, Aécio Neves (PSDB), e do presidente do Banco Central, HenriqueMeirelles (PMDB-GO), aparecem como alternativas mais palatáveis.

Opções à parte, militares torcem para que, quem quer que venha a sereleito, o futuro ministro da Defesa tenha "capacidade de liderançajunto ao Planalto", e continue o trabalho de Nelson Jobim, queconsideram "o primeiro ministro de verdade da Defesa".

Condecoração. O governador paulista, ainda que discretamente,articula aproximação com os militares. Em outubro passado, Serraprocurou o presidente do Clube Militar, general Gilberto Figueiredo.Apesar de estar na reserva, o general traduz o pensamento do pessoal daativa, que não pode se manifestar. Ficaram de acertar uma data para otucano dar palestra para os militares.

Na semana retrasada, Serra protagonizou lance de aproximação. Comajuda do amigo Jobim, os comandantes das três Forças e chefes doComando Militar do Sudeste, do 8.º Distrito Naval e do 4.º Comar foramreceber a Ordem do Ipiranga. Serra anunciou que vai estudar aEstratégia Nacional de Defesa - política para a administração dasForças Armadas - e fez elogios aos militares.

Há preocupação com a fama do governador de não considerar"prioritários" os gastos militares e ser crítico da paridade entre ossoldos da ativa e da reserva. A caserna se diz "traumatizada" com agestão de Serra como ministro do Planejamento de Fernando HenriqueCardoso. A percepção dos militares é de que ele não gosta de homem defarda, militares, carteiros ou mata-mosquitos.

"Não é Lula". No caso da ministra, repetem uma frase: "Dilma não éLula." O temor, dizem, é que, sem a popularidade e a experiência denegociação de Lula, ela fique "à mercê dos revanchistas", olhando "oretrovisor".

Os militares falam em "mágoa" por causa do comportamento dela nadiscussão do Programa Nacional de Direitos Humanos. Dizem que Dilma foi"omissa", evitando confrontar "os amigos" do tempo da luta armada.Apesar das ressalvas, dizem que foi graças às obras do PAC, contratadascom as Forças, que a Engenharia do Exército foi "ressuscitada emodernizada". Pragmáticos, afirmam que Exército, Marinha e Aeronáuticapodem estar "mais seguros" com Dilma pelo fato de, se eleita, ficar"comprometida" com o programa de reequipamento da Defesa iniciado nogoverno do presidente Lula.