Título: Dilma e Serra buscam tesoureiro de campanha acima de qualquer suspeita
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2010, Nacional, p. A4

Nomes. Petistas preparavam Vaccari, mas ele acabou atropelado peloescândalo da Bancoop, enquanto PSDB gostaria de repetir escolha deMárcio Fortes, chefe da arrecadação tucana na disputa de 2002, que noentanto foi escalado para vice de Gabeira no Rio

Futurosrivais na corrida presidencial, a petista Dilma Rousseff e o tucanoJosé Serra têm uma circunstância que os une: os dois estão à procura deum tesoureiro para seus comitês eleitorais. Tanto a ministra, que jáescalou um punhado de auxiliares, como o governador paulista, prestes alançar oficialmente a candidatura, buscam um caixa de campanha comperfil de arrecadador discreto, que não lhes crie problemas nem levantesuspeitas.

De olho numa boa largada em São Paulo, PT e PSDB também formam ostimes com a preocupação de fincar estacas no maior colégio eleitoral doPaís, berço dos dois partidos. Com a vantagem de quem comanda o Estadohá 12 anos, o PSDB trabalha para sair com algo em torno de 6 milhões devotos à frente em São Paulo.

O número cabalístico dos tucanos foi citado nas últimas reuniões dacúpula petista e causou receio. Aflita com a indefinição sobre opalanque de Dilma no Estado de Serra, a direção do PT decidiu aceleraro passo e bancar a candidatura do senador Aloizio Mercadante (SP) aogoverno paulista, mesmo antes de o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) dar aresposta final ao presidente Lula.

Na prática, ninguém no PT acredita que Lula conseguirá convencerCiro a concorrer à sucessão de Serra. Com esse diagnóstico, petistas jáiniciaram as negociações para montar uma chapa liderada por Mercadante,tendo PDT ou PSB na vice. Estaria formado aí o palanque de Dilma em SãoPaulo.

A cúpula do PSDB, no entanto, está convencida de que quem vencer aeleição em Minas levará a faixa presidencial. É por isso que, dentro oufora do organograma da campanha, o governador tucano Aécio Neves estána linha de frente da operação para conquistar aliados no segundo maiorceleiro de votos.

Guerra e Pimentel. Do lado do PT, o ex-prefeito de Belo HorizonteFernando Pimentel atua com o mesmo objetivo. Além disso, a estratégiapetista consiste em lembrar ao eleitorado que Dilma é mineira. Amigo daministra desde a juventude, Pimentel tem cuidado dos palanques Brasilafora, mas ainda não conseguiu resolver a pendência em seu próprioterritório. Ele quer ser candidato à sucessão de Aécio, mas a vagatambém é disputada por dois ministros: o do Desenvolvimento Social,Patrus Ananias (PT), e o das Comunicações, Hélio Costa (PMDB). Nasexta-feira, Lula se reuniu com Pimentel e Patrus e pediu a elescautela para não pôr a perder o casamento de papel passado com o PMDB.

A coordenação política da campanha de Serra já é informalmenteexercida pelo presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), mas ostucanos dizem não ter pressa de escalar a equipe. A indicação dotesoureiro estava quase fechada há dois meses, mas voltou à estaca zero.

O grupo mais próximo do candidato gostaria de repetir a escolha deMárcio Fortes, caixa da campanha tucana de 2002, mas foi atropelado namontagem do palanque do Rio, terceiro colégio eleitoral. Semalternativa de candidatura própria para lançar na briga pela sucessãofluminense, Fortes virou candidato a vice na chapa do deputado FernandoGabeira (PV).

As idas e vindas na indicação do tesoureiro, porém, tiveram sabormais amargo no PT. Os problemas começaram no mês passado, quando o PTescolheu João Vaccari Neto para secretário de Finanças. A partir daí,uma avalanche de denúncias pôs o partido na defensiva.

O comando do PT agiu rápido para evitar estragos na campanha,anunciando que o tesoureiro do comitê será outro. Mas até agora váriosempresários sondados recusaram o convite.

Vaccari é acusado pelo Ministério Público de São Paulo de terdesviado dinheiro da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop)para campanhas do PT. Ele nega a denúncia, mas o constrangimento foicriado. Na quarta-feira, a oposição conseguiu aprovar a convocação deVaccari, do promotor José Carlos Blat, do doleiro Lúcio Funaro e deHélio Malheiro, irmão do ex-presidente da Bancoop, para prestaremdepoimento à CPI das ONGs.

Nervos. "É uma vergonha o que estão fazendo, pois o juiz desse casoviu exagero na ação do promotor e mandou que ele apontasse onde estãoas provas", diz Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula."Precisamos ter sangue frio e nervos de aço."

Tesoureiro da campanha de reeleição do presidente, em 2006, oex-prefeito de Diadema José Di Filippi Junior foi convidado parareassumir a função - desta vez no comitê de Dilma -, mas não aceitou."Sou candidato a deputado", afirma ele. Lula, porém, jura que fará umapelo a Filippi para conciliar a candidatura com o comando do cofre.

As preocupações de petistas e tucanos, porém, não se resumem aotesoureiro. No PSDB, o ex-deputado Ronaldo César Coelho terá papelimportante na articulação com o setor financeiro, temeroso com aprevisão de mudança no câmbio e na taxa de juros feita por Guerra.Longe dos holofotes da campanha de Dilma, o deputado e ex-ministro daFazenda Antonio Palocci trata não só de conseguir um homem de confiançapara cuidar das finanças do comitê como de aproximar a candidata dosempresários.

"Dilma é a candidata da continuidade. Ninguém precisa temer qualquerguinada", resume Palocci, em reuniões com industriais e banqueiros.