Título: Granma saúda apoio do Brasil ao regime
Autor: Escobar, Reinaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2010, Internacional, p. A20/21

Para o governo cubano, as denúncias sobre os presos políticos da ilha, que começaram a ganhar repercussão com a morte de Orlando Zapata, após 85 dias de greve de fome, são uma "campanha midiática contra Cuba", como expôs o jornal oficial Granma na sexta-feira. Logo na primeira página, uma matéria cita o "apoio do Brasil à ilha".

"Deputados do Grupo Parlamentar Brasil-Cuba e representantes de organizações sociais, juvenis e populares dessa nação sul-americana rechaçaram ontem (quinta-feira) a atual campanha midiática contra Cuba", diz o Granma, citando uma manifestação em Brasília, na frente da embaixada cubana, a amizade de Frei Beto e uma moção de apoio à ilha elaborada pelas deputadas Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) e Jô Moraes (PC do B- MG) e assinada por "dezenas de legisladores brasileiros".

A morte de Zapata, em fevereiro, e os 22 dias de greve de fome do jornalista Guillermo Fariñas para pedir a libertação dos presos políticos cubanos provocou consternação em muitos países.

Mas boa parte da América Latina manteve-se em silêncio.

Em Havana, o governo procurou ofuscar a polêmica com uma série de atos lembrando o drama dos "cinco heróis da revolução". Trata-se de cinco cubanos que foram viver em Miami e acabaram presos no fim dos anos 90, acusados de espionagem.

Dois foram condenados à prisão perpétua. Seu objetivo era infiltrar-se entre a "máfia de exilados em Miami" para deter os ataques a Cuba. Por isso os cubanos os consideram presos políticos. E não admitem que os EUA possam pedir a Havana que solte os presos políticos da ilha, se não estão dispostos a fazer o mesmo.

A onda repressiva de 2003, que resultou na prisão de 75 dissidentes, também está relacionada com a disputa com os EUA. Na época, o governo cubano alegou que opositores estariam sendo patrocinados pelo novo chefe do Escritório de Interesses Americanos, James Cason, que, de fato, convidava com frequência opositores para passar por seu escritório.