Título: Bancos privados perdem mais com o compulsório
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2010, Economia, p. B1

Bancos estatais são menos afetados pela alta dos compulsórios porque usam recursos de fundos públicos, como o FGTS Arecente decisão do Banco Central de elevar os depósitos compulsóriosafetou mais os bancos privados do que os estatais. BB e CEF sofremmenos porque uma parte de suas operações de crédito se sustenta comrecursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e do FAT(Fundo de Amparo ao Trabalhador) e depósitos judiciais. Nessas fontesde recursos, consideradas mais baratas, não há incidência docompulsório.

Essa vantagem fica mais evidente com a perspectiva de aumento dataxa Selic e da elevação dos compulsórios pelo BC, que devem encarecero custo do dinheiro. Hoje, para utilizar esses recursos os bancos pagampelo menos a rentabilidade da caderneta de poupança, o que correspondeà TR e mais 6% ao ano.

Levantamento feito pelo Estado, com base nos balanços, mostra quepelo menos R$ 143 bilhões do FGTS, FAT e depósitos judiciais estavamnas mãos do BB e da Caixa no fim do ano. A Caixa tem R$ 50 bilhões deFGTS e outros R$ 20,8 bilhões de depósitos judiciais. Já o BB tinha R$14,8 bilhões de FAT e outros R$ 57,4 bilhões de depósitos judiciais.Esses depósitos chegam a 8% do ativo total do BB.

Na Caixa, 70% das operações de crédito são feitas com recursos dacaderneta de poupança e do FGTS. Nos bancos privados, esse númerocorresponde a 30%. No BB, essa proporção é mais parecida com osprivados. Mas o BB tem mais de R$ 57 bilhões em depósitos judiciaispara usar, fonte de recursos que não está disponível para osconcorrentes privados.

Os compulsórios só têm impacto semelhante para públicos e privadosnos recursos livres - que é dinheiro captado diretamente no mercadofinanceiro. "Bancos que usam crédito direcionado e o FGTS, como é ocaso da Caixa, ficam um pouco mais protegidos", disse o vice-presidenteda Caixa, Márcio Percival.

Em fevereiro, subiu o valor dos compulsórios que os bancos sãoobrigados a recolher no BC, retirando R$ 71 bilhões de circulação. Commenos recursos disponíveis, o custo da captação aumentou.

Impacto. Os bancos privados sentiram mais o encarecimento porquesuas operações são feitas principalmente com recursos livres. Para oex-presidente do BC e sócio da consultoria Tendências, Gustavo Loyola,a vantagem dos bancos públicos faz com que o BC aumente, além donecessário, o compulsório para os privados. "Existe uma política degoverno que é aumentar crédito, mas por outro lado o BC restringe ocrédito no mercado."

Mesmo tendo espaço para atuar na caderneta de poupança, que tem um ocusto de captação menor, os bancos privados preferem ampliar osempréstimos com recursos livres, pois podem destinar o dinheiro para aárea que quiserem e sem limitação para os juros. "O aumento docompulsório encareceu o crédito livre, o que favorece o banco público",diz Percival, da Caixa. Para ele, apesar de os recursos do FGTS, FAT edepósitos judiciais serem mais baratos, isso não significa que osbancos oficiais tenham vantagem. Os recursos direcionados, do FAT eFGTS, têm foco específico e a rentabilidade para o banco é baixa.

No caso dos depósitos judiciais, os recursos são usados paraoperação de tesouraria porque não são de longo prazo. "Não posso usaresse dinheiro para créditos de longo prazo. Isso provocariadescasamento entre créditos de longo prazo e de curto prazo."

Para o ex-economista-chefe da Febraban, Roberto Troster, essesrecursos proporcionam uma vantagem competitiva. Luis Santacreu, daAustin Rating, diz que "existe um benefício dos bancos públicos, emboratodo o sistema seja atingido com a elevação dos compulsórios."