Título: Bancos públicos lideram alta dos juros
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2010, Economia, p. B1

Levantamento feito com dados do BC mostram que taxas médias do BB e da Caixa subiram mais que as do Itaú, Bradesco e Santander

Osbancos públicos lideram a alta dos juros nos empréstimos ao consumidorem 2010. Levantamento feito pelo "Estado" com dados do Banco Centralmostra que a taxa do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal subiueste ano mais do que no Itaú, Bradesco e Santander. Os bancos federaislideram a alta nas quatro operações para pessoas físicas acompanhadaspelo BC: crédito pessoal, financiamento de veículos, aquisição de bense cheque especial.

Analistas dizem que a alta pode ser fruto da recomposição da margem de lucro ou de mudança no perfil dos clientes.

Após meses de atuação agressiva, com corte dos juros entre 2008 e2009, o comportamento dos bancos públicos parece mudar. Números do BCmostram que o juro médio praticado pelo BB e pela Caixa sobegradualmente desde o fim de 2009.

Na modalidade mais tradicional de empréstimo, o crédito pessoal, aCaixa lidera o aumento. Entre o fim de 2009 e 18 de março, a taxa subiu2,9 pontos porcentuais e atingiu 30,9% ao ano.

Proporcionalmente, essa foi a maior alta de juros - cerca de 10% noperíodo - entre os cinco maiores bancos. O BB foi o segundo que maiselevou a taxa. No Itaú, oscilou ligeiramente e o Bradesco reduziu em 4pontos.

Carros. No financiamento de veículos, operação apoiada pelo governo,foi a vez de o BB liderar. No ano, a taxa média do banco subiu 3 pontose está em 22,9%.

Na média, o BB empresta hoje com um juro 15% maior que o do fim de2009. Em segundo na lista, a Caixa teve aumento de 1,7 ponto. A taxa doBradesco subiu 1,2 ponto e o Itaú reduziu os juros em quase 2 pontos.

Ainda que esses bancos não tenham anunciado a alta do custo dessasoperações, a taxa cobrada pode subir. Isso acontece porque asinstituições estabelecem juros mínimos e máximos e a taxa praticadaoscila dentro desse intervalo, conforme o perfil do cliente. Se o bancoavaliar que o tomador do empréstimo tem mais risco, cobra mais juro.Desde o início do ano, é esse movimento que tem acontecido.

Queda da inadimplência. "Os bancos públicos podem estar aproveitandoo aumento da demanda para recompor margens. Essa é a explicação maisrazoável, até porque o risco de crédito não aumentou nos últimos meses.Pelo contrário, a inadimplência caiu e diminuiu a chance de calote, oque deveria gerar um alívio nos juros", diz o diretor do Instituto deEnsino e Pesquisa em Administração (Inepad), Alberto Borges Matias.

O economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban),Rubens Sardenberg, fez uma avaliação parecida. "Podemos ter milhares deexplicações, mas há alguns motivos mais comuns. No caso dos públicos,eles fizeram um movimento muito forte de corte da taxa na crise e,agora, podem estar recompondo margem. É possível também que, paramanter o ritmo de crescimento, estejam operando com novos clientes, oque eleva a taxa final."

Vale lembrar que, mesmo com a alta recente, os bancos públicos aindapraticam taxas competitivas. No cheque especial e no crédito pessoal,Caixa e BB emprestam com as taxas mais baixas entre os cinco grandes.No financiamento de veículos, estão na média do mercado. A exceção ficacom a aquisição de bens, segmento em que a Caixa empresta com o maiorjuro dos cinco maiores bancos: 71,9% ao ano.