Título: Governo reduz em 80% verba para qualificação
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2010, Economia, p. B3

Previsão do Codefat era destinar R$ 1 bilhão para treinar mão deobra, mas corte no Orçamento diminuiu o valor para R$ 200 milhões

Ogoverno cortou em quase 80% a verba proposta pelo Conselho Deliberativodo Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) para qualificação eintermediação de mão de obra em 2010, apesar da escassez detrabalhadores qualificados que já atinge alguns setores.

A previsão do Codefat era destinar R$ 1 bilhão para financiar cursosde qualificação, mas o corte feito no Orçamento da União reduziu essevalor para R$ 220 milhões. O montante aprovado é 34% menor que os R$334 milhões realizados em 2009.

"Só ficamos sabendo do corte quando o projeto já estava no CongressoNacional", diz o presidente do Codefat, Luigi Nesse, que também presidea Confederação Nacional de Serviços (CNS). "Procuramos os parlamentarese os ministros da Fazenda (Guido Mantega) e do Planejamento (PauloBernardo) para tentar repor os recursos, mas nossos argumentos poucoadiantaram", conta Nesse.

Segundo ele, a proposta inicial do governo era ainda mais modestaque a aprovada pelo Congresso. Destinava só R$ 162 milhões aosprogramas de qualificação profissional financiados com recursos do FAT.

"O aumento que houve, não significa nada. Na prática, não temdinheiro nenhum para qualificação profissional", diz o presidente daForça Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.

O sindicalista vai procurar diretamente o presidente Lula paratentar ampliar os recursos. ""O Lula sabe o que é isso. Para ganhar umpouquinho melhor, ele fez um curso no Senai quando era metalúrgico. Esabe que hoje, sem qualificação, não tem como entrar no mercado detrabalho"".

Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ArturHenrique, o corte de gastos não poderia atingir as políticas públicas esociais, como os recursos para o FAT. ""Defendemos já faz algum tempo ofim da meta de superávit primário, ou ao menos sua flexibilização,principalmente quando o Estado precisa ser indutor do desenvolvimento"".

Os sindicalistas e conselheiros do FAT entendem que se nada forfeito a escassez de trabalhadores qualificados representará uns dosprincipais gargalos para o crescimento superior a 5% esperado para esteano. A previsão é que vai sobrar vaga e faltar profissionalespecializado em algumas regiões do País, principalmente no Sul eSudeste.

Conforme estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, setoresnos quais a retomada do crescimento é intensa, como construção,comércio e hotelaria, enfrentarão dificuldade para encontrar pessoascapacitadas para preencher 320 mil postos de trabalho este ano.

A preocupação com a falta de mão de obra treinada é tanta que sefala em "importar" trabalhadores da construção civil de paísesvizinhos. A medida, sugerida pelo presidente da Associação Brasileiradas Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Luiz AntônioFrança, recebeu o apoio do presidente da Câmara Brasileira da Indústriada Construção Civil (CBIC), Paulo Safady Simão.

""Seria um desastre ter que trazer chineses para cá"", exagera opresidente da Força Sindical. ""É preciso sensibilizar o governo, sobpena do desenvolvimento do País ficar inviável por falta de trabalhadorqualificado.""