Título: Sindicalistas veem incentivo à especialização
Autor: Rehder , Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2010, Economia, p. B1

Em um contexto de crescente demanda por trabalhadores qualificados, a redução da jornada contribuiria em muito para esse desafio, dizem os sindicalistas. A adoção da medida liberaria mais horas para que o trabalhador tivesse melhores condições de estudar e se qualificar, além de dedicar mais tempo para o convívio familiar e o lazer.

É o caso da metalúrgica Simone Soares, de 36 anos, que trabalha como auxiliar de estoque em uma fábrica de chapinhas e secadores de cabelo, na capital paulista. No ano passado, Simone se matriculou em um curso técnico de controle de medidas, em Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo, onde reside, mas teve de desistir no meio do caminho. Ela não conseguia chegar no horário e era impedida de entrar na sala de aula.

Desde fevereiro, no entanto, a jornada na empresa em que Simone trabalha foi encurtada de 42 horas para 41 horas semanais. Pelo acordo negociado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Mogi das Cruzes e Região, o expediente será de 40 horas a partir de fevereiro de 2011. Ela pretende voltar a estudar.

Com a saída antecipada do trabalho, e fora do horário de pico de trânsito em São Paulo, ela pode chegar com tranquilidade antes do horário de início das aulas.

"Quero fazer um curso de especialização em controles estatístico, que vai somar pontos na minha carreira", diz Simone, que é casada e tem dois filhos.

Além de trazer progresso social, os sindicalistas dizem que a redução da jornada funcionaria como redutor do desemprego e estimulador do crescimento econômico. Acreditam que as empresas contratarão mais trabalhadores para produzir em 40 horas o que produzem em 44 horas.

Especialistas como o professor Hélio Zylberstjan, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), afirmam que ninguém conseguiu provar que houve aumento de empregos nos países onde a jornada foi reduzida por lei ou negociação.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), calcula que o impacto da redução da jornada no custo da hora trabalhada seria de uma alta média dede 1,99%, "o que não afetaria a vida das empresas", observa Sergio Luiz Leite, presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo.

Entidades empresariais são contra redução da jornada por força de lei. Os empresários defendem a livre negociação. "Cada um sabe aonde aperta o seu calo", diz o diretor da Fiesp Roberto Della Manna. / M.R.