Título: O preço do ferro
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2010, Notas e informações, p. A3

A alta de 90%, em média, dos preços do minério de ferro exportado (US$100/US$ 110 por tonelada do produto) deve elevar consideravelmente a receita de exportação brasileira, hoje muito dependente das vendas de produtos primários ou semimanufaturados.

Para se ter uma ideia, a receita das exportações de minério de ferro foi de US$ 2,4 bilhões no primeiro bimestre deste ano, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A esse total, deve-se acrescentar US$ 1,1 bilhão de vendas de ferro fundido e aço e suas obras, em janeiro e fevereiro, antes, portanto dos novos contratos firmados com siderúrgicas internacionais. Assim, é possível que esses itens, tomados individualmente, venham a se tornar a principal fonte de divisas do País.

Há protestos de compradores, como as siderúrgicas europeias, mas o fato é que os preços hoje são determinados por uma demanda em expansão, fortemente puxada pela China. Em consequência, os países desenvolvidos não têm mais o poder de ditar preços dessa matéria-prima. Tanto assim que, em sua maioria, os contratos, antes firmados por períodos anuais, vão ser, de agora em diante, reajustados trimestralmente, presumivelmente para cima, enquanto o apetite chinês por minério de ferro não for saciado. Vale notar que os próprios clientes chineses preferem reajustes trimestrais, o que facilita a concessão de descontos por volume contratado.

Com o fortalecimento da economia de mercado no Brasil, não existindo contingenciamento ou medidas artificiais para conter os preços no mercado interno, esses vão também subir em proporção ainda difícil de avaliar, mas que se estima em 15%. Isso pressionará a inflação em um momento em que ela apresenta tendência de alta. Como já se prevê, a taxa básica de juros poderá ser elevada a partir da reunião de 27 e 28 de abril do Copom.

Há, porém, algumas circunstâncias a considerar. Como têm se queixado alguns setores industriais, os preços do aço no Brasil estão acima do mercado internacional, o que leva à importação de produtos siderúrgicos, apesar dos custos de frete, tarifas alfandegárias, etc. Ora, como grandes siderúrgicas brasileiras, entre elas a Usiminas e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), também são proprietárias e exploram minas de ferro, para atender às suas próprias necessidades e exportar, elas poderiam, em tese, moderar seus aumentos de preços no mercado interno, mesmo sabendo-se que o carvão usado na siderurgia brasileira é totalmente importado e vem tendo igualmente seus preços elevados.

Alguns fatores devem pesar na conjuntura atual, uma vez que a demanda interna de aço vem crescendo, o que concorreu para suprir, em boa parte, a queda das exportações do produto no período mais agudo da crise internacional.

Além do emprego amplo de produtos siderúrgicos pela indústria manufatureira, o aço vem sendo cada mais utilizado pela construção civil, sendo de interesse das siderúrgicas promover o seu uso nesse setor, já existindo projetos em execução até mesmo no segmento em expansão da habitação popular. Foi a demanda interna que fez siderúrgicas instaladas no País acionarem altos-fornos desligados durante a crise e aumentar a sua produção.

A maior demanda de minério também induz ao aumento da oferta, ou seja, a investimentos. Além dos investimentos programados pela Vale, a Anglo American anunciou a ampliação de sua participação no País e a CSN vendeu uma fatia de 40% a um consórcio asiático em sua subsidiária Namisa, também dedicada à exploração de minério de ferro.

O bom momento tem reflexos também na produção de aço. As siderúrgicas instaladas no País estão em processo de retomada de planos de expansão que tiveram de deixar de lado durante a crise, e a Vale, parceira da ThyssenKrupp na Cia. Siderúrgica do Atlântico (CSA), em Santa Cruz (RJ), está tocando projetos siderúrgicos no Porto de Pecém (PE), em associação com o grupo coreano Dongkuk, e iniciou a construção de outra usina em Marabá (PA).