Título: Negociador do Irã vai à China, que não confirma acordo sobre sanções
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2010, Internacional, p. B12

O principal negociador do Irã para questões nucleares, Said Jalili, viajou ontem para Pequim, um dia depois de os EUA terem declarado que a China está disposta a analisar a imposição de sanções contra Teerã no âmbito do Conselho de Segurança da Organização da ONU.

Ontem, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Qin Gang, não confirmou as informações das autoridades americanas e disse que Pequim continua favorável à "negociação diplomática" para a solução do impasse em torno do programa nuclear iraniano. Na quarta-feira, a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, afirmou que o governo chinês havia aceitado iniciar "negociações sérias" sobre a aplicação de sanções ao Irã.

Qin disse ontem que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e mais a Alemanha fizeram uma teleconferência na quarta-feira, durante a qual concordaram "em manter contato por meio de vários canais". O porta-voz da chancelaria chinesa reafirmou a posição do país, contrária à posse de armas nucleares pelo Irã, mas favorável ao direito de Teerã de desenvolver pacificamente a energia nuclear. Em nenhum momento ele indicou que houve uma mudança na posição chinesa contrária às sanções.

A China é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, o que lhe dá poder de veto. Isso significa que o país pode barrar qualquer resolução, ainda que ela tenha sido aprovada pelos outros quatro membros permanentes: EUA, França, Grã-Bretanha e Rússia.

Pequim resiste a apoiar sanções contra o país muçulmano por razões econômicas e ideológicas. O Irã é o terceiro maior fornecedor de petróleo da China, que tem uma série de investimentos no setor energético do país muçulmano.

A passagem de Jalili pela China é crucial para a definição do voto do país no Conselho de Segurança da ONU.

Qin anunciou que o presidente chinês, Hu Jintao, participará da cúpula sobre segurança nuclear, que será realizada em Washington nos dias 12 e 13, um sinal de diminuição da tensão entre os dois países.

Havia dúvidas sobre a presença de Hu em razão dos conflitos que afetaram a relação bilateral desde o início deste ano, entre os quais estão a venda de armas para Taiwan, o encontro do presidente Barack Obama com o dalai-lama e as críticas americanas ao valor da moeda chinesa.

"A cúpula de segurança nuclear discutirá principalmente a ameaça representada pelo terrorismo nuclear e as medidas correspondentes dos países e da comunidade internacional", afirmou Qin. Depois de Washington, Hu viajará para Brasil, Venezuela e Chile. Ele estará em Brasília nos dias 15 e 16 para participar da segunda cúpula dos países do bloco Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Na avaliação de Qin, o encontro "ajudará a fortalecer a voz e a influência dos florescentes mercados dos países em desenvolvimento