Título: Siderúrgicas veem monopólio
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2010, Economia, p. B3

O setor siderúrgico acredita que a imposição de contratos para a comercialização do minério de ferro terá impacto negativo sobre a recuperação econômica global, e autoridades do mundo todo deveriam examinar esse mercado.

"Há agora uma urgente necessidade de que as autoridades (de proteção) da competição no mundo inteiro examinem o mercado do minério de ferro, e o comportamento no mercado das três companhias que dominam o negócio", disse Ian Christmas, diretor-geral da Associação Mundial do Aço, referindo-se à Vale e às anglo-australianas Rio Tinto e BHP Billiton.

Quarta-feira, a Eurofer e a Acea (entidades europeias que reúnem siderúrgicas e indústrias automobilísticas, respectivamente) haviam pressionado as agências reguladoras da União Europeia a evitar a concorrência desleal e a cobrança de preços abusivos no minério.

A Associação Mundial do Aço representa aproximadamente 180 siderúrgicas do mundo, responsáveis por 85% da produção mundial. As três grandes mineradoras praticamente ditam os preços do minério de ferro, um mercado de US$ 80 bilhões anuais, e agora querem abandonar o sistema de negociações anuais de preços, em vigor há décadas, pelo trimestral.

Estabilidade. As siderúrgicas argumentam que o contrato anual dá estabilidade ao mercado. As mineradoras queixam-se dos prejuízos que sofrem quando o preço no mercado à vista dispara em relação ao valor prefixado, como no ano passado.

Segundo a Associação Mundial do Aço, o trio controla 68,5% do mercado total do minério de ferro embarcado por via marítima. A BHP e a Vale já fecharam acordos provisórios - ontem, a empresa brasileira oficializou o seu - com siderúrgicas japonesas para vender o minério, matéria-prima essencial do aço, sob contratos trimestrais.

As siderúrgicas europeias resistem, alegando que vão manter o sistema anual de preços com os seus próprios clientes.

Christmas disse que o sistema de contratos anuais "pode ter imperfeições, mas tem o mérito de sustentar relações de longo prazo entre o setor siderúrgico e os fornecedores de matérias primas, levando a benéficas decisões de investimentos em médio prazo".

Segundo ele, a passagem para o mercado à vista "será volátil e não beneficiará nenhuma das partes em médio e longo prazos".