Título: China cede e potências estão mais perto da adoção de sanções contra Irã
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2010, Internacional, p. A12

Avanço diplomático. Segundo diplomatas, Pequim admite aprovar medidas adicionais contra programa nuclear de Teerã já "nos próximos dias", antes de conferência atômica da ONU; Para Hillary, "preocupação" chinesa com iranianos é "crescente"

Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Alemanha, com o apoio fundamental de China e Rússia, aproximaram-se ontem mais do que nunca da adoção de novas sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU, disse ontem a secretária americana de Estado, Hillary Clinton, durante uma conferência em Nova York.

As potências teriam convencido Pequim a pôr um fim ao longo processo de diálogo sobre o programa nuclear de Teerã, passando, "nos próximos dias", para a fase das sanções internacionais.

Segundo a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, "a China concordou em sentar-se e iniciar negociações sérias em Nova York". Diplomatas disseram que a mudança de posição da China torna possível a aprovação de sanções ainda este mês, antes da conferência da ONU sobre o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP).

Otimismo. Hillary vinha demonstrando cada vez mais otimismo com a possibilidade de atrair os chineses para a adoção de novas sanções. A Rússia, há semanas, já tinha aberto mão da resistência em aplicar punições a Teerã, "Vemos uma preocupação crescente da parte de muitos países, incluindo a China, com as consequências de um Irã com armas nucleares para a estabilidade regional e global e para nosso fornecimento de petróleo. Por isso, pensamos que um consenso será alcançado sobre o melhor caminho a ser seguido", disse a secretária há dois dias, em Ottawa.

"Essa é uma grande vitória para os EUA e os europeus. A China deu grandes passos", declarou ontem um diplomata à agência de notícias britânica Reuters.

O presidente americano, Barack Obama, havia afirmado na terça-feira que esperava que as sanções fossem aprovadas "em semanas, não meses", o que pareceu, naquele momento, uma ambição desmedida, dada a relutância demonstrada até então pelo regime chinês em apoiar as sanções. Mas, um dia depois, fontes americanas revelaram que, numa teleconferência entre os países envolvidos no debate, a China mostrou-se finalmente aberta a analisar um esboço das sanções propostas pelo Ocidente.

A mudança frustra a posição defendida pelo Brasil até agora, de prolongar o máximo possível as conversações com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, em busca de uma solução negociada.

Teerã diz defender o direito de desenvolver um programa nuclear pacífico, voltado para a geração de energia e fins medicinais. Mas os EUA e outras potências afirmam que Ahmadinejad tenta apenas ganhar tempo enquanto investe num programa com fins militares.

Em setembro, EUA e França revelaram a existência de uma usina iraniana clandestina. A instalação, construída para suportar bombardeios, ficava ao lado da cidade de Qom, e foi mantida em segredo dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

PONTOS-CHAVE Estados Unidos Lidera a pressão no Conselho de Segurança da ONU pela adoção de sanções contra Teerã. Acredita que o regime tenta ganhar tempo para desenvolver armas nucleares.

Brasil Diz que as sanções adotadas contra o governo iraniano no passado não tiveram efeito positivo e defende que o diálogo com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad (foto), seja estendido.

Rússia Relutou em apoiar a política de novas sanções contra Teerã, mas vem dando sinais de que pode ceder aos argumentos do Ocidente. Apoiou três sanções contra o Irã no passado.

Israel Teme que um programa nuclear iraniano com fins militares ameace a própria existência do Estado israelense. Mantém sobre a mesa a ameaça de um possível ataque preventivo.