Título: Dependência externa torna setor estratégico para governo
Autor: Goy, Leonardo ; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2010, Negocios, p. B12

O peso do agronegócio na balança comercial brasileira e a disparada dos preços dos fertilizantes no início de 2008 ? que puxou os custos de produção agrícola e teve reflexos nos índices de inflação ? fizeram o governo classificar a área de insumos agropecuários como setor estratégico. Como o País importa cerca de 70% da demanda nacional, fica vulnerável às oscilações de preço da matéria-prima no mercado internacional.

O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, atrás de China, Índia e Estados Unidos. Juntos, os três consomem 60% da produção global, enquanto a fatia brasileira é de 6%.

No início de 2008, a crescente demanda por nitrogênio, potássio e fósforo, usados nas formulações dos fertilizantes, fez os preços subirem entre 40% a 80%. O barril do petróleo, outro insumo essencial no custo de produção, chegou ao recorde de US$ 145,29 em julho, ante o valor médio de hoje, em torno de US$ 80. O custo maior foi repassado para toda a cadeia, puxando os preços de alimentos. Em junho daquele ano, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) havia detectado alta de 8,35% nos preços de produtos agrícolas em apenas seis meses.

Mas a crise global inverteu a trajetória e fez os preços de fertilizantes e das commodities agrícolas despencarem. No ano em que se esperava consumo recorde de 26 milhões de toneladas, as vendas de fertilizantes no País somaram 22,42 milhões de toneladas, segundo a Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda). No ano seguinte, a comercialização ficou estável. Já neste ano estudo do Rabobank prevê alta de 5% na demanda interna e a recuperação das importações. Mas o reaquecimento da economia global tende a puxar demanda e os preços.

Esse cenário fez o governo aumentar a pressão sobre o setor. Os ministérios da Agricultura e das Minas e Energia estudam mudanças no Código de Mineração para forçar empresas que têm concessão de minas de matérias-primas para fertilizantes, como fósforo e potássio, a explorar as reservas para aumentar a produção e reduzir a dependência externa. O tema está em discussão e terá de ser tratado pelos novos ministros.