Título: Colômbia começa a superar Farc e uribismo em campanha eleitoral
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2010, Internacional, p. A13

A Colômbia prepara-se para escolher, em maio, o sucessor do presidente Álvaro Uribe, cujas bandeiras, nos últimos oito anos, têm sido o combate às guerrilhas e às drogas e a desmobilização de grupos paramilitares.

O sucesso de Uribe em avançar nessas metas está registrado em pesquisas de opinião: sua popularidade é de 75% e hoje a segurança tornou-se um tema secundário na campanha presidencial, atrás da saúde, educação, corrupção e desemprego. Segundo o Instituto Gallup o combate à violência é prioridade só para 6,8% dos colombianos.

Em um debate na semana passada entre os principais candidatos presidenciais, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) quase não foram mencionadas. E isso quando estava em curso um processo de libertação de reféns da guerrilha. Ironicamente, o candidato de Uribe, Juan Manuel Santos, ministro da Defesa até 2009, pode ser prejudicado justamente pelas boas notícias. Apesar de líder nas pesquisas, com 34,2% das intenções de voto (segundo o Gallup), Santos pode enfrentar dificuldades na hora de defender as políticas do atual governo na área social e institucional.

O problema para ele, como explica o analista político Francisco Miranda, editor de opinião do jornal El Tiempo, de Bogotá, é que quanto menos se fala de segurança, mais complicada fica a sua candidatura.

De uma tradicional família colombiana, Santos é membro do governista Partido de la U - o "U" é uma alusão justamente a Uribe. Até poucas semanas atrás, o próprio presidente pretendia tentar um terceiro mandato, mas uma decisão da Suprema Corte vetou um referendo sobre a reforma constitucional que seria necessária para a sua candidatura. A demora de Uribe em desistir de concorrer irritou Santos. E foi o que adiou a definição do cenário da corrida eleitoral.

Além disso, há outra candidata ligada ao uribismo. Noemi Sanín, ex-embaixadora na Espanha e na Grã-Bretanha, é a segunda colocada, com 23,3%nas intenções de voto - o que dividiu o eleitorado afim ao presidente. Ela foi escolhida em uma primária do Partido Conservador, um dos dois mais tradicionais do país. "Sua candidatura praticamente determinou que haverá segundo turno", disse Miranda.

A surpresa na campanha é a candidatura de Antanas Mockus, ex-prefeito de Bogotá, do Partido Verde. Conhecido por iniciativas polêmicas, como proibir que todos os homens saíssem às ruas da capital por um dia para que as mulheres pudessem aproveitar a cidade, ele é tido como honesto e é considerado um político experiente.

Com 10,4% das intenções de voto, tem espaço para crescer, segundo analistas, especialmente depois dos bons resultados de seu partido na última eleição legislativa.

Os outros candidatos são Gustavo Petro, de esquerda, o acadêmico Sergio Fajardo - que vinha bem nas pesquisas, mas caiu recentemente e pode desistir para apoiar Mockus -, Rafael Pardo, do Partido Liberal, e o ex-uribista Germán Vargas Lleras.