Título: Investimento na indústria crescerá 26%
Autor: Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2010, Economia, p. B1
A recuperação da atividade econômica levou empresas de setores voltados ao mercado doméstico a retomarem projetos de investimento que ficaram engavetados durante a crise financeira mundial.
Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com 1.232 empresas em todo o País, indica que a indústria de transformação vai investir este ano R$ 151,9 bilhões em máquinas, equipamentos, instalações, gestão, inovação e pesquisa e desenvolvimento (P&D).
O valor é 26,4% maior que os R$ 120,2 bilhões de 2009. Só para máquinas e equipamentos, deverão ser destinados R$ 92,7 bilhões , 14,6% mais que no ano passado (R$ 80,9 bilhões). Com base nesse número, a Fiesp estima que a taxa de investimento atingirá 18,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010.
Para a Fiesp, isso seria suficiente para garantir crescimento do PIB superior a 5,5% no ano, o que tornaria desnecessária a elevação da taxa básica de juros (Selic) esperada pelo mercado e já sinalizada pelo Banco Central.
Normalmente, seria necessário alcançar taxa de investimento de 25% do PIB para que a economia pudesse crescer acima de 5,5% sem provocar pressões inflacionárias. Com a crise, no entanto, boa parte das empresas, segundo a Fiesp, ainda trabalha com folga de capacidade, por causa da queda das exportações,
"A volta dos investimentos, dos turnos desativados e das horas extras garante o atendimento da demanda com crescimento de 5,5%", afirma o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, que coordenou a pesquisa.
Alta do juro. A maioria dos economistas de mercado pensa de forma diferente. "Para proteger a meta de inflação, o BC terá de iniciar um processo de alta do juro", diz o ex-presidente do BC Gustavo Loyola. "Acreditamos que uma alta de 2,5 pontos porcentuais nos próximos meses seria suficiente para colocar os juros no ponto de equilíbrio."
A pesquisa mostra que os investimentos das empresas vão focar a expansão do mercado, mas sem deixar de se preocupar com uma produção eficiente e custos reduzidos. "As empresas querem recompor margem e participação de mercado perdidas em 2009", diz Roriz Coelho.
A principal origem dos recursos para investimento continuará a ser o caixa da empresa. No entanto, a demanda por recursos públicos deverá aumentar de 12,8% para 17,3% do investimento, o que exigiria esforço adicional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
"O BNDES tem exercido papel fundamental como indutor do investimento, mas ainda fala só a linguagem das grandes empresas, que podem recorrer ao mercado de capitais", diz Roriz Coelho. Não por acaso, segundo Roriz, os investimentos estão concentrados nas grandes empresas, responsáveis por 79,5% do total previsto para o ano.