Título: Plano China-Brasil cria metas para os países
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2010, Economia, p. B9

O Plano de Ação Conjunta que os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hu Jintao assinarão amanhã, em Brasília, visa a dar caráter institucional à relação entre Brasil e China, com o estabelecimento de metas e a criação de mecanismos permanentes de consulta e coordenação entre os dois países.

O principal veículo de implantação do plano, que abrange o período 2010-2014, é a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Coordenação (Cosban), que foi criada em 2004, mas nunca funcionou como deveria.

Coordenada pelo vice-presidente José Alencar e o vice-primeiro-ministro chinês Wang Qishan, a comissão deveria se reunir a cada dois anos, mas até hoje fez só um encontro, em 2006. O segundo estava previsto para 2008, mas já foi adiado três vezes. A previsão é que ocorra ainda neste ano, em Brasília.

A Cosban tem dez subcomissões, responsáveis pelo acompanhamento de diferentes áreas do relacionamento bilateral. A maioria delas teve apenas um encontro desde sua criação. Com o plano de ação, elas passarão a se reunir pelo menos uma vez por ano, disse a conselheira da Embaixada do Brasil em Pequim, Tatiana Rosito.

"A estruturação de um documento amplo ajuda a institucionalizar a relação entre os dois países", ressaltou. As subcomissões terão tarefas a serem cumpridas no período que vai até 2014 e deverão apresentar avaliações à secretaria-executiva da Cosban, dirigida pelo secretário-executivo do Ministério das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e a vice-ministra do Comércio da China, Ma Xiuhong.

Daqui a dois anos, a cúpula da Cosban terá de se reunir para reavaliar os objetivos do plano que será assinado amanhã. O documento também criará mais uma subcomissão, a econômico-financeira, que terá a função de discutir as trocas financeiras entre os dois países, incluindo o uso de moedas nacionais no comércio bilateral.

As subcomissões já existentes são: econômico-comercial, política, energia e mineração, agricultura, inspeção e quarentena (questões sanitárias), indústria e tecnologia da informação, cooperação espacial, ciência, tecnologia e inovação, cultura e educação.

Além da Cosban, os dois países têm um Diálogo Estratégico, no qual discutem principalmente questões relacionadas a temas internacionais.

Papel do Bric. A importância do Bric para a China cresceu depois da crise financeira global, principalmente em razão do papel que o grupo desempenha na pressão pela reforma do sistema econômico multilateral, avaliaram dois integrantes da Academia Chinesa de Ciências Sociais (ACCS), principal centro de pesquisas do país.

"Junto com os outros três integrantes do Bric, a China pode falar mais alto dentro do G-20, já que o grupo tem posições similares em relação a uma série de temas relacionados à crise mundial", disse Jiang Shixue, que durante 29 anos se dedicou ao estudo da América Latina na ACCS e desde 2009 é vice-diretor do Instituto de Estudos Europeus da instituição.

A cúpula do Bric em Brasília deverá servir para os quatro países afinarem as posições que defenderão na reunião do G-20 no Canadá, em junho, ressaltou Xu Shicheng, do Instituto de América Latina da ACCS.

Especialista chinês quer a África do Sul e o México no Bric

O vice-presidente da Associação Chinesa de Estudos Latino-americanos, Xu Shicheng, defende que o encontro dos países do Bric na sexta-feira avance no processo de institucionalização do grupo, com a criação de uma secretaria-geral e a previsão de reuniões periódicas entre os dirigentes e ministros de Estado. Mas, para ele, o grupo deveria incluir mais dois países emergentes, o México e a África do Sul.