Título: País precisa de crédito privado de longo prazo
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2010, Economia, p. B3

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, está engajado em negociações com os principais bancos para estimulá-los a conceder crédito de longo prazo. Ele afirma que "essa agenda é que responderá pelo tamanho do BNDES". Especialistas preocupados com a política fiscal criticaram os vultosos aportes recebidos pelo banco.

O BNDES recebeu R$ 180 bilhões do Tesouro em dois anos. Vai seguir desse tamanho?

É difícil dizer, a priori. A infraestrutura demanda investimentos com prazos de 20 anos. Não vejo o mercado preenchendo essa lacuna no curto prazo. É preciso financiar setores de capital intensivo, cujo período de maturação dos investimentos é longo. Temos ainda o crédito a pequena e média empresa e a inovação tecnológica, que é uma atividade de risco mais alto. Resumindo: essas missões reservam um papel relevante para o BNDES nos próximos anos. Ao dizer isso, não significa que precisa crescer, porque cresceu muito, mas talvez manter um tamanho importante. E deixar o espaço para o setor privado preencher a expansão dos financiamentos. Estamos engajados no diálogo com o setor financeiro. Nas próximas semanas, manterei reuniões para concretizar esse estímulo ao desenvolvimento do mercado de capitais e do crédito de longo prazo.

Mas o governo está discutindo mais recursos para o BNDES?

Os R$ 80 bilhões do Tesouro (em 2009) são suficientes. O que estamos discutindo é 2011, 2012. Queremos assegurar que, nos próximos anos, seja possível combinar esse papel necessário do BNDES e o estímulo ao mercado. Temos estudado alternativas a partir de 2011. Uma parcela passa pelo BNDES acessar mais os mercados, mas ocupar um espaço indevido.

O Tesouro tem condições de voltar a fazer aportes no BNDES?

Aportes na escala que foram feitos nos últimos dois anos refletiram um momento de crise. Não antevejo a necessidade de aportes nessa escala. O importante é colocar em marcha um processo virtuoso de desenvolvimento financeiro do Brasil. Esse é um tópico que está fora da agenda: fontes privadas de financiamento de longo prazo. O sucesso dessa agenda é que responderá a questão do tamanho do BNDES e não o contrário.

Está em gestação algum incentivo para os bancos emprestarem por prazos mais longos?

Já temos um diálogo no nível técnico e existe uma série de propostas para aperfeiçoar condições. Mas é prematuro detalhar. Não é uma questão de dar garantia, mas liquidez. É importante que papéis de prazo mais longo do sistema privado possam ter o conforto do mercado secundário. Hoje me parece o fator mais relevante.

Os bancos se baseiam muito no crédito consignado. Têm um medo do risco do mercado. Como o sr. vê isso?

Os créditos imobiliário e consignado são nichos razoavelmente bem resolvidos, porque têm um sistema de mitigação do risco. Precisamos desenvolver outros instrumentos desse tipo para financiar o investimento de empresas em expansão. O grosso da poupança brasileira hoje está em título do governo com liquidez diária. Essa é a realidade que precisa ser modificada através de mecanismos de mercado. Porque ninguém induz a uma migração sem que haja perspectiva de obter retornos.