Título: BC critica tese da expansão a todo custo
Autor: Leopoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2010, Economia, p. B3

Segundo Meirelles, "esse é um raciocínio que usamos há décadas e não funcionou"

Em seu primeiro pronunciamento público desde que decidiu permanecer no cargo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, defendeu ontem a política monetária baseada em metas de inflação.

Em encontro com executivos financeiros em São Paulo, ele destacou o BC está comprometido com o sistema de metas e criticou a ideia de que a expansão forte da economia é o que importa, mesmo que ela supere a capacidade de oferta e resulte em alta de preços.

Ao desistir da disputa eleitoral, Meirelles declarou que ficou no cargo para "contribuir para a racionalidade econômica". Ontem, deixou claro que o BC não aceita a tese de que quanto mais demanda melhor. "Esse é um raciocínio que usamos há décadas e que não funcionou".

Segundo ele, os que defendem a expansão a qualquer custo se enganam ao imaginar que as empresas vão investir mais e ampliar a capacidade de produção só por conta da demanda. "Eles acham que se tiver um pouco de inflação não haveria problema, mas eu acho que tem, pois o importante para as empresas é que os investimentos requerem um certo tempo para maturar e elas precisam de previsibilidade."

De acordo com Meirelles, existem duas alternativas no embate entre crescimento e preços: "A demanda, em última análise, vai sempre se equilibrar em relação à oferta. Uma das alternativas é a inflação, pois quando os preços sobem a demanda cai. É o controle sem controle, não tem um piloto no manche e a economia passa a enfrentar o problema da imprevisibilidade".

A outra alternativa, destacou Meirelles, é ter o BC no comando da economia. "Evidentemente o Banco Central não vai exagerar. Vai deixar a demanda suficientemente aquecida de maneira a dar condições aos empresários de projetar vendas à frente e investir o máximo possível, que é o que acontece no Brasil nos últimos anos", comentou. "A trajetória de inflação no Brasil mostra-se equilibrada e o crescimento está aumentando."

Sem freio. Com ironia, Meirelles acrescentou: "Não se pode querer que o piloto só tenha acelerador, e não tenha breque. Ou que não pode ter direção, só pode ir reto, tem uma curva e passa por cima e chega do outro lado".

De acordo com Meirelles, uma economia estável e com previsibilidade traz benefício ao País, como uma taxa de juro real menor, dado que esse indicador não incorpora a imprevisibilidade e o risco de inflação. "A previsibilidade do ritmo de expansão com inflação sob controle amplia o horizonte de planejamento das empresas, o que, por sua vez, estimula os investimentos no curto prazo e gera mais empregos, aumento de renda da população e o bem estar social".