Título: Participação de fundos de pensão enfrenta problemas
Autor: Marques, Gerusa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2010, Economia, p. B6
A Previ já participa por meio de empresas controladas e Funcef e Petros têm dúvidas quanto à rentabilidade
A convocação do governo para que os principais fundos de pensão - Previ, Petros e Funcef - formem consórcios para disputar o leilão da Hidrelétrica de Belo Monte esbarra em impedimentos regulatórios e econômico-financeiros dessas fundações.
Com patrimônio na casa dos R$ 140 bilhões, a Previ está, pela regulação brasileira, superexposta no setor de energia, com participações acionárias de peso na CPFL e na Neoenergia, geradoras e distribuidoras de eletricidade. Por isso, o fundo dos funcionários do Banco do Brasil só poderia atender ao apelo do governo por meio de empresas das quais participa do controle.
O problema é que a Previ já está presente - por meio das controladas Vale e Neoenergia - no único consórcio formalizado até agora, liderado pela Andrade Gutierrez. O fundo chegou a negociar a entrada em um segundo consórcio, via CPFL, outra das empresas controladas. A CPFL entraria na disputa com a Camargo Corrêa, Odebrecht e a Funcef. Esta semana, as duas construtoras desistiram do leilão, sob o argumento de que o projeto é economicamente inviável.
Rentabilidade. Originalmente, a CPFL entraria no leilão com as outras duas empresas controladas pela Previ - Vale e Neoenergia. Mas, segundo fontes, a mudança de rumo seguiu o esforço do governo para aumentar a concorrência. Além disso, a Camargo Corrêa, outra controlada da CPFL, também optou por negociar um consórcio concorrente com a Odebrecht.
Por já estar no primeiro consórcio, a Previ teve de optar por não participar das decisões estratégicas do grupo formado pela Camargo e Odebrecht.
A rentabilidade do projeto é apontada por representantes dos fundos como o principal foco de preocupação. O edital prevê investimento de R$ 19 bilhões. Mas as construtoras alegam que Belo Monte demandará cerca de R$ 30 bilhões. Segundo o presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, análises mais profundas sobre o investimento apontavam para retorno financeiro "difícil", muito próximo da meta atuarial do fundo, hoje baseada no INPC mais 5,5% ao ano.
"O que os técnicos estavam mostrando é que a rentabilidade oferecida era muito baixa. E, ao contrário do que se pensa, as taxas de juros no Brasil ainda são altas e o investimento em Belo Monte é de longo prazo." Lacerda negou que esteja sendo pressionado pelo governo para disputar Belo Monte e revelou que, até o momento, a Odebrecht, líder do consórcio, ainda não fez nenhuma comunicação oficial ao fundo sobre a desistência.
Em nota, a Petros também mostrou preocupação com a relação entre rentabilidade e meta atuarial. Mesmo informando não ter feito uma análise técnica, a fundação dos funcionários da Petrobrás destacou que "não há a menor possibilidade de a Petros fazer investimentos que não cubram suas necessidades atuariais". / COLABOROU NATÁLIA GOMEZ