Título: China ignora apelo do Brasil em favor do Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2010, Internacional, p. A14

Lula conversa com Hu Jintao sobre programa nuclear de Teerã, mas líder chinês mantém disposição de discutir sanções na ONU Denise Chrispim Marin, Tânia Monteiro e Leonêncio Nossa - O Estado de S.Paulo

A questão nuclear iraniana foi o principal assunto da conversa de ontem entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o líder chinês Hu Jintao, em Brasília. Mas o Brasil não conseguiu persuadir o presidente chinês a recuar em sua decisão de discutir as sanções contra Teerã com os demais membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha.

A posição chinesa acentuou o isolamento do Brasil, que insiste em mais espaço para uma solução negociada com o Irã. Em uma rápida entrevista depois do segundo encontro bilateral de Lula com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, e antes da abertura da cúpula do Foro Ibas (Índia, Brasil, África do Sul), o chanceler brasileiro, Celso Amorim, avaliou que tanto a China quanto a Índia consideram discutível a eficácia de sanções sobre o Irã.

Segundo Amorim, há "grandes afinidades" desses países com a posição do Brasil.

Mas a "completa sintonia" foi percebida apenas na conversa entre Lula e o presidente sul-africano, Jacob Zuma. "Como disse o premiê Singh, as sanções atingem as pessoas mais fracas e vulneráveis e não os dirigentes", afirmou Amorim.

Lula insistiu ainda com Hu, Singh e Zuma que há espaço para a negociação de um acordo para a troca de urânio levemente enriquecido do Irã por combustível nuclear, fabricado na Rússia ou na França.

Também reiterou outros dois tópicos. Primeiro, que é preciso uma "flexibilização" da posição do Irã, para que esse país possa desenvolver seu programa nuclear com fins pacíficos sem despertar dúvida na comunidade internacional sobre a possível construção de uma bomba.

Segundo, que as sanções não só seriam ineficazes, como contraproducentes. "Lula reafirmou que o Irã tem de ser mais transparente para mostrar que a finalidade de seu programa nuclear é pacífica", disse Amorim.

Para o ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, o Brasil não está isolado. "Quando o Brasil está defendendo o interesse nacional, nunca está isolado", afirmou o ministro. "A posição brasileira contrária à invasão militar ao Iraque, em 2003, provou-se correta. Na época, todos os outros estavam errados", completou.

PARA ENTENDER

Rússia e China são os dois dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais resistentes à pretensão dos demais membros de impor sanções para forçar o Irã a desistir de seu programa nuclear. Ambos têm negócios milionários com Teerã. Nas últimas semanas, porém, a Rússia deu sinais de que poderia aceitar a imposição das sanções, desde que fossem leves. A China reiterou nesta semana que aceita "discutir" uma proposta de sanções.