Título: Jornal menciona morte de reformista e quebra tabu
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2010, Internacional, p. A15

O jornal oficial do Partido Comunista da China, Diário do Povo, publicou ontem artigo do primeiro-ministro Wen Jiabao para marcar os 21 anos da morte de Hu Yaobang, o líder reformista que caiu em desgraça em 1987 por apoiar movimentos pró-democracia e cuja morte desencadeou os protestos de estudantes na Praça Tiananmen em 1989.

Até poucos anos, a imprensa chinesa era proibida de publicar o nome de Hu Yaobang e de seu sucessor, Zhao Ziyang, que perdeu o posto de secretário-geral do Partido Comunista por se recusar a reprimir a manifestação de estudantes. O protesto terminou de modo sangrento de 3 para 4 de junho, quando um número desconhecido de pessoas morreu pela ação do Exército.

Também ontem, outro jornal ligado ao Partido Comunista, o Global Times, criou na internet uma galeria de fotos de Hu Yaobang, que foi secretário-geral do PC de 1982 a 1987. Entre elas, está a imagem de estudantes que homenageiam o líder morto ao redor do monumento em memória aos heróis da Revolução Comunista na Praça Tiananmen, no início dos protestos que duraram quase dois meses.

O link para a galeria foi colocado na página do Global Times. O texto em inglês que acompanha as imagens afirma que Hu Yaobang foi um líder chinês que apoiou reformas econômicas e políticas: "Em 1987, socialistas linha-dura o forçaram a renunciar em razão de sua atitude "flexível" em relação à "liberalização burguesa"."

Wen Jiabao não citou o episódio da Praça Tiananmen em seu artigo, que tem um tom emocional e pessoal. É difícil avaliar o significado da publicação do artigo e o quanto ele reflete do pensamento dos líderes do PC. Mas não há dúvida que ele toca em um tema tabu. "O premiê está falando por si próprio ou está liderando um movimento reformista? Contra quem?", perguntou o analista político Russell Leigh Moses no site do Wall Street Journal.