Título: Eike defende contrapartida da China para venda de commodities
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2010, Economia, p. B10
Empresário, que assinou acordo com siderúrgica chinesa, sugere que parte da transformação em produto seja feita no País
O Brasil pode aumentar o valor agregado do seu comércio exterior, condicionando a exportação de matérias-primas para a China à sua elaboração parcial no País. Esta é a visão do megaempresário Eike Batista, presente ontem à assinatura, pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Hu Jintao, da China, do Plano de Ação Conjunta dos países para 2010-2014. Na mesma cerimônia, Eike assinou acordo entre a sua EBX e a siderúrgica chinesa Wisco, para construção de uma siderúrgica no norte fluminense.
A questão da diversificação das exportações do Brasil para a China, concentradas em commodities como ferro e soja, entrou com força na pauta das relações entre os dois países. No seu discurso na cerimônia de assinatura do Plano de Ação Conjunta, Lula disse que, "para que a promessa do comércio Sul-Sul seja uma realidade, o Brasil precisa aumentar o valor agregado das suas vendas".
Segundo o embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney, o reequilíbrio do comércio bilateral é um dos temas que preocupam o Brasil nas relações com o país asiático, e foi levado em conta na negociação do Plano de Ação Conjunta.
Cooperação. Os dois países comprometem-se a "diversificar os produtos de exportação, particularmente em setores intensivos em inovação e tecnologia", Para Eike, o negócio entre a EBX e Wisco mostra como evitar que a relação comercial entre Brasil e China seja cada vez mais a de um fornecedor de matérias-primas com um fabricante de produtos acabados. "Lula falou numa cooperação em que se agregue mais valor, que o País não fique como uma fazenda ou uma grande mina."
O acordo prevê a construção de uma siderúrgica de 5 milhões de toneladas anuais no Porto de Açu, no norte fluminense, que também é um empreendimento de Eike. Com um investimento de US$ 5 bilhões, dividido em 70% e 30% entre Wisco e EBX, a usina deve começar a fabricar, em três anos, produtos siderúrgicos para setores variados, como o automobilístico e o naval. Segundo Eike, a capacidade da siderúrgica poderá ser triplicada.
O empresário, porém, vê possibilidades bem mais ambiciosas para as relações Brasil-China no setor siderúrgico. Segundo ele, a China produz 600 milhões de toneladas de aço por ano, ante 34 milhões do Brasil. Os planos chineses, continua Eike, são de continuar a expandir sua capacidade, ao nível de 700 milhões a 900 milhões de toneladas anuais.
Como o Brasil é um grande fornecedor de minério de ferro - principal matéria-prima do aço - para a China, o País poderia, na visão do empresário, convencer os chineses a trazer para o País parte do planejado aumento da capacidade. "Com 100 milhões de toneladas, nós triplicamos nossa produção atual."
Segundo Eike, a produção da siderúrgica de Porto Açu vai atender o mercado nacional e o excedente será exportado para a China. No caso de uma ampliação maciça da produção no Brasil das siderúrgicas chinesas, porém, o objetivo básico seria exportar para o país asiático. "Agrega-se dez vezes o valor do seu produto (minério de ferro) e emprega muito mais gente."
Eike vê um papel para o Estado na articulação estratégica das crescentes relações econômicas entre gigantes como China, Índia e Brasil, que junto com a Rússia formam o Bric, cujos chefes de Estado se reuniram ontem.
ESCLARECIMENTO
A Studio Michey Presents Finos Ltda nega que tenha fechado um contrato com a empresa chinesa Yong Feng conforme publicado na terça-feira, dia 13, na matéria com o título ''Brasil e China fecham negócios milionários''. A empresa diz que realizou apenas uma importação dois anos atrás. As informações publicadas pelo Estado foram enviadas oficialmente pelo Ministério de Comércio da China. Procurados, representantes do governo chinês no Brasil sustentam os dados.