Título: Investimentos industriais e aumento da taxa Selic
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2010, Economia, p. B2

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) estão prevendo que haverá neste ano um forte aumento dos investimentos e que isso tornará desnecessária uma elevação da taxa de juros básica, como se prevê que o Banco Central (BC) adote.

Os industriais estão com uma visão equivocada da situação: de que o problema principal é o descasamento entre a demanda de bens e a oferta. Pode-se entender essa interpretação diante da insistência do Comitê de Política Monetária (Copom) em denunciar esse descasamento, deixando entender que é um quadro que justifica uma medida suscetível de conter a demanda.

Tivemos a oportunidade diversas vezes de manifestar a opinião de que o nível de ocupação da capacidade instalada não representava um fator seguro para se avaliar a evolução da inflação, pois as empresas podem alcançar maior produção pelo aumento das horas trabalhadas e melhoria da produtividade. Por outro lado, a elevação da capacidade instalada pode eventualmente ser mal distribuída, criando pontos de estrangulamento.

Convém destacar que as autoridades monetárias não podem tomar suas decisões com base na simples intenção das empresas industriais. Caberia, além disso, levar em conta que um aumento dos investimentos de 26,4%, como está prevendo a Fiesp, representaria um forte aumento da mão de obra empregada, assim como uma elevação sensível da renda, que se traduziria por nova pressão de demanda.

Todavia, o fato mais importante é, que, se o Copom se decidir por uma elevação da taxa básica de juros, será essencialmente em razão de um crescimento excessivo e excessivamente rápido do consumo das famílias, que nenhum aumento da capacidade de produção pode acompanhar.

A vida econômica exige um certo equilíbrio entre os setores da demanda e da oferta: se o primeiro cresce em ritmo excessivo, o fator tempo, assim como a disponibilidade de poupança, não permite acompanhar esse ritmo que apenas a importação é capaz de atender, o que não é razoável nesta fase da conjuntura econômica do País, que enfrenta um pesado déficit das transações correntes do balanço de pagamentos.

Acrescente-se ainda que, mesmo admitindo que a Formação Bruta de Capital Fixo alcance 18% em relação ao PIB, essa relação ficará abaixo do pico de 2008, período em que a demanda não chegou ao nível que se está prevendo para este ano.