Título: Amorim enfatiza atuação do Brics no G-20
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2010, Economia, p. B10

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reiterou ontem que os países do G-20 (grupo das maiores economias desenvolvidas e emergentes) devem aplicar, sem mais atrasos, as resoluções já acertadas nas suas três reuniões de cúpula, como as medidas para reformar o sistema financeiro internacional.

Amorim disse ainda que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial têm de efetivar a ampliação do peso das economias em desenvolvimento em suas decisões.

As duas questões foram enfatizadas na declaração conjunta do Bric (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), ao final da reunião de cúpula ocorrida na quinta-feira, em Brasília. Os mesmos entendimentos já haviam sido sublinhados no encontro dos líderes do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), horas antes. Segundo Amorim, os sócios do Bric e do Ibas respondem por um PIB superior ao dos EUA ou da União Europeia.

"O próprio FMI diz que os países em desenvolvimento serão responsáveis por 62% do crescimento da economia mundial nos próximos oito anos. É natural que haja essa redistribuição, que pode ser progressiva", afirmou, ao destacar que os emergentes têm sido o "motor" da recuperação econômica.

Amorim convocou a imprensa para fazer um balanço das reuniões bilaterais conduzidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os líderes da China, da Índia, da África do Sul e da Rússia em apenas um dia.

Rodada Doha. O Brasil espera que os EUA retomem as negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), nas bases de 2008, em função da vitória brasileira na controvérsia em torno da política americana de subsídios ao algodão. Amorim advertiu que os EUA correrão o risco de reduzir seus subsídios agrícolas sem receber nenhum ganho comercial em troca, se não se empenharem pela conclusão da Rodada.

"Se tivessem contribuído para a conclusão da Rodada em julho de 2008, estariam reformando sua política de subsídios agrícolas, mas também recebendo benefícios comerciais em troca. Não só Brasil, mas de todo o mundo", afirmou o chanceler.

Amorim receberá hoje o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, para tratar da possível retomada da Rodada Doha. Para o ministro, o cenário aberto pelo direito de o Brasil aplicar US$ 829 milhões anuais em retaliações comerciais aos EUA deve alterar a reticência da Casa Branca. O próprio governo americano calcula que a inevitável redução dos subsídios à produção e exportação de algodão afetará toda a política de subvenção para outros produtos agrícolas, como açúcar e etanol, que será consolidada em 2010 na reforma da Farm Bill.

Diante disso, uma saída plausível seria a retomada da Rodada, que poderia garantir maior acesso a mercados para os produtos americanos. Amorim, entretanto, já se apressou a impor como condição a preservação dos acertos já firmados - como a eliminação de subsídios à exportação em 2013 - e a base da redução de tarifas de importação de bens industriais.

"Eu não estarei aqui. Mas a Rodada vai terminar", afirmou Amorim, referindo-se ao fato de que, provavelmente, não continuará no posto de chanceler no próximo governo. "Começar uma nova Rodada diferente dessa seria uma loucura. "Abandonar a Rodada seria uma loucura ainda maior", completou.

Na avaliação do chanceler, as negociações não foram retomadas até agora por falta de "liderança política". Com isso, quis acentuar a indisposição dos EUA em apresentar uma oferta agrícola que favorecesse um acordo final.

Questionado sobre a possibilidade de a primeira etapa das negociações entre Brasil e EUA para evitar a aplicação das retaliações comerciais ser concluída até o dia 21, Amorim afirmou não saber a resposta.